Os advogados Ércio Quaresma e Fernando Oliveira Magalhães, que representam o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, entraram nesta terça-feira no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) com um pedido de suspensão da juíza Marixa Fabiane Lopes.
O documento foi protocolado também no Fórum de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, onde no próximo dia 4 de março será realizado o júri popular de Bola, do goleiro Bruno e da ex-mulher dele, Dayanne do Carmo Souza. Também aguardam julgamento, ainda sem data marcada, os ex-funcionários Elenilson Vítor e Wemerson Marques. Todos são acusados de matar, juntamente com a ex-amante do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, e o ex-amigo, Luiz Henrique Romão, Macarrão, estes dois já condenados, a também ex-amante do atleta, Eliza Samudio.
Os defensores de Bola querem o afastamento de Marixa Fabiane porque, segundo o advogado Fernando Magalhães, a magistrada determinou a expedição da certidão de óbito de Eliza Samudio, após a confissão de Macarrão no júri popular que aconteceu em novembro do ano passado. O documento, no entendimento dos defensores, poderá influenciar a decisão dos jurados no julgamento do dia 4 de março: "Para mim ela (a juíza) tem feito atos que não são de atribuição dela. Magistrado não pode opinar. O principal motivo é a certidão de óbito", disse.
De acordo com o documento expedido por um cartório em Vespasiano, região metropolitana, Eliza teria sido morta por asfixia em junho de 2010 na casa de Bola. Magalhães espera que até a próxima segunda-feira possa haver uma decisão da Justiça sobre o possível afastamento da magistrada para o julgamento do dia 4. Esta seria a quarta vez que os advogados tentam suspender a juíza Marixa do caso. Segundo Magalhães, a expedição da certidão de óbito “pode influenciar os jurados que irão compor o júri”.
A reportagem do Terra entrou em contato com o TJ-MG, mas até o final da tarde desta terça-feira a assessoria do órgão não havia recebido a confirmação da formalização do pedido dos advogados.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo. Bruno será julgado em março junto a outros dois acusados: o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, e Dayane Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e acusada de ser cúmplice no crime.
No dia 22 de novembro de 2012, durante depoimento de cinco horas, Macarrão responsabilizou Bruno pelo sumiço de Eliza. Dois dias depois, o júri condenou Luiz Henrique Romão, o Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro, a cinco anos.