Com mais de 30 anos de carreira, o soteropolitano Marcelo Nova, de 61 anos, se prepara para, após oito anos, lançar um novo álbum com 12 canções inéditas. Neste sábado (2), um dos roqueiros mais ativos e contestadores da década de 1980, fundador da banda Camisa de Vênus, esteve em São José dos Campos (SP) para se apresentar no Sesc ao lado do filho e fiel escudeiro, Drake Nova, que comanda as guitarras.
Em uma recente declaração em sua página na internet, o baiano falou sobre clonagem humana. Antes de subir ao palco do Sesc ele falou o que faria com o próprio clone, caso isso fosse possível. "Ele atrapalharia imensamente a minha originalidade. Eu o mataria imediatamente", disse.
Há 33 anos tocando em vários tipos de palcos e casas noturnas, Nova também falou sobre a tragédia em Santa Maria (RS), onde 237 jovens morreram na semana passada após um incêndio dentro da boate Kiss. "Quando me perguntam se acredito que isso vai ser resolvido, definitivamente eu respondo, não, de quem esta nessa vida há 33 anos. Eu lhe respondo não, e porque não? Daqui há 4, 5, 6 meses a mídia esgota tudo relacionado a isso e já vão existir outros assuntos", disse.
Carreira
Liderando o 'Camisa', Nova alcançou fama nacional, gravou diversos hits, como ‘Bete Morreu’, 'Eu Não Matei Joana D’Ark’ e ‘Só o Fim’, mas quando a banda estava no auge comercial, por volta de 1986, ele deixou o grupo. Desde então, o roqueiro já lançou mais de dez álbuns, sem contar um disco ao vivo e um de estúdio durante uma breve reunião da ex-banda, em meados dos anos 1990. O último trabalho, ‘O Galope do Tempo’ foi lançado em 2005.
Nova também ganhou notoriedade, no fim dos anos 1980, quando se tornou parceiro do ídolo dos velhos tempos de quando era garoto em Salvador. Junto com Raul Seixas, Marceleza – apelido inventado pelo próprio Raul – fez 50 shows e gravou aquela que é considerada uma das bíblias do rock nacional: o álbum ‘Panela do Diabo’.
Em entrevista ao G1, ele falou ainda sobre a passagem do tempo, o cenário atual da música, o carnaval e a tragédia que matou 237 pessoas na boate Kiss, em Santa Maria (RS) na semana passada (confira a íntegra abaixo).
Como foi esse primeiro mês de 2013? E como é ter seu filho tocando com você?
Estou trabalhando. Esse negócio de férias não é comigo, não. Eu estou num negócio que férias é quando você morre. Não tem outra. Eu acho que sou um pai coruja, ele é o meu guitarrista, penso que foi um achado dentro da minha própria casa.
Recentemente, você fez uma declaração em seu site sobre clonagem de seres humanos. Como seria um clone do Marcelo Nova? O que faria ou o que deixaria de fazer?
Cara, olha eu vou lhe dizer um negócio, ele atrapalharia imensamente a minha originalidade. Eu o mataria imediatamente. Como no Brasil não tem leis para quem é branco, e, de alguma forma tem um destaque artístico, então eu o mataria e ainda sairia ileso. Você ia ver: 'Marcelo Nova assassinou Marcelo Nova' e todo mundo iria aplaudir.
Seu ultimo disco, 'O galope do tempo', fala sobre a passagem do tempo. Durante esses mais de 30 anos de carreira o que o tempo de ensinou?
Não ter a ansiedade que me corroia quando eu era jovem. Essa é parte boa. A parte ruim é a dor nas costas quando você entra no carro rápido demais. Então, o envelhecer tem as suas qualidades, as suas nuances positivas e evidentemente possui aspectos que se você pudesse adiaria, porém, é como qualquer outra fase na sua vida. Pressupõe uma mudança constante do momento em que você nasce até o momento em que você começa a engatinhar é um avanço extraordinário. Você nasce praticamente como um ser inanimado dependendo da sua mãe 24 horas por dia, para comer, para se vestir, enfim. Meses depois, você já esta engatinhando, você adquiriu uma autonomia, houve uma mudança muito significativa em pouco tempo e daí para frente isso não para mais.
Ainda falando sobre o tempo, o Nasi (ex-vocalista do Ira!), lançou recentemente uma biografia. Você pensa em fazer isso também?
Para falar a verdade há pelo menos uma década eu venho sendo assediado por jornalistas com essa proposta para fazer uma biografia e até agora eu tenho resistido estoicamente, entendeu. Não sei lhe dizer quando isso vai ou se vai acontecer, não é algo que eu esteja pensando. Eu gosto quando eu penso em algo para fazer profissionalmente, eu gosto de me dedicar. Eu passei esse ano, por exemplo, me dedicando em meu novo disco que sai em abril. Eu passei um ano totalmente dedicado a isso. São 12 canções inéditas.
Semana passada aconteceu aquela tragédia em Santa Maria (RS). Quantas vezes você passou por situações de risco de vida quando foi se apresentar em algum lugar?
O tempo todo para falar a verdade. Em 33 anos já toquei nos melhores lugares que você possa imaginar e nos piores muquifos que você não imagina. Temos uma tradição no Brasil de não cumprirmos, ou melhor, de conduzirmos nossas vidas pelo aspecto emocional, isso é típico do brasileiro. Então, quando acontece uma catástrofe dessa ficamos todos possuídos pela dor, pela vontade de pedir justiça, pela emoção, toda essa catarse, e depois esquecemos completamente. E naquele momento em que você deveria estar reivindicando, e fazendo, e cobrando que as coisas acontecessem, você já não lembra mais, porque já chorou tanto, já esvaziou tudo aquilo. Nós temos essa 'mexicanização' da novela e dramalhão e quem perdeu a vida foram os moleques. Molecada de vinte e poucos anos, 200 moleques perderam a vida por nada, por nada. E, daí, você me pergunta: 'você acredita que isso vai ser resolvido?', definitivamente eu lhe respondo, de quem está nessa vida há 33 anos, eu lhe respondo não, e porque não, porque daqui a quatro, cinco, seis meses já vão existir outros assuntos, a mídia já vai ter esgotado toda a sua sanha em relação a isso e já vai estar se direcionando para outras notícias. E vamos entrar no processo de ver o fiscal entrar na casa e dizer: 'cadê o alvará?' e o proprietário dizer: 'ô véio, não tem alvará não, mas toma duzentão aqui, me dá um tempinho', entendeu?
Mudando completamente de assunto, semana que vem já é carnaval, como será o seu?
Olha, comprei uma caixa de blue-ray espetacular que se chama Classic Monsters. Tem 'Drácula', 'O homem Invisível', 'Frankstein', 'A noiva de Frankstein', 'O Lobisomem', espetacular. São essas minhas escolas de samba favoritas, cada dia eu vejo uma, entendeu. Vou passar meu carnaval torcendo para o drácula sugar o sangue da jugular daquela donzela.
Antes de se tornar músico, você foi radialista. Se você ainda estivesse nesse meio o que não faltaria na sua playlist?
Ah, várias coisas cara. Várias coisas. Leonard Cohen, Marianne Faithfull, Bob Dylan, Raul Seixas, Jards Macalé, Walter Franco. Ah, uma infinidade de artistas. Ben Webster, Louis Armstrong, uma infinidade de artistas. Meu playlist é muito grande.
Você tem alguma banda nova para indicar para 'molecada'?
Ah, necessariamente não. Eu gosto de Jack White, do White Stripes, acho ele interessante, ousado, cara de pau, mas não sei se são tão novos já tem mais uma década então não sei lhe dizer se teria algo, está muito difícil também para molecada criar algo original, você tem todo o catálogo à sua disposição. Você sabe como Eric Clapton toca, qual é guitarra que ele usa, qual pedal ele utiliza, você entra na internet e procura o nome do amplificador que o cara toca é, é difícil ser original, hoje é difícil, é bem difícil, precisa surgir um geniozinho ai.