Como nasceu o futebol em Alagoas?

20/01/2013 12:10 - Lauthenay Perdigão
Por Redação

Um grupo de rapazes estudantes de Direito e Medicina nos princípios de 1909 apresentaram em Maceió uma novidade: o futebol. O novo esporte adquiriu na vida brasileira imensa importância. É preciso notar que, antes de nossa capital, Penedo travou conhecimentos com o futebol. A precedência foi, porém, de apenas três meses e dias. O primeiro jogo na cidade sanfranciscana teve lugar a 27 de dezembro de 1908, ultimo domingo naquele ano. Nele tomavam parte dois times organizados com rapazes da associação fundada para aquele fim e que ainda existe gloriosamente, o Esporte Clube Penedense. Os precursores do futebol em Alagoas foram os seguintes – No time vermelho e branco jogaram Jul io Berna Dino, Fernando Mendonça, Gaspar Mello, Osvaldo Mero, Afonso Aquino, Vivaldo Matos Alcino Monteiro, Eduardo Pereira (capitão do time), Manoel Brandão Filho, Arnóbio Sales e José Monteiro. No time verde e branco tivemos João Cravo, Argemiro Cavalcante, Agripino Barbosa, Samuel Maia, Álvaro Peixoto, Elysio Nogueira e Horácio Pereira. O juiz foi Antonio da Silva Costa e seus auxiliares José Costa e Artur Otacílio. O segundo jogo aconteceu no dia 31 de janeiro de 1909 e uma verdadeira multidão afluiu à Praça do Senhor dos Pobres onde se realizou o evento.

Em Maceió, o futebol foi um bebê aristocrático. Deve-se ao esforço de Manoel Machado, então no 5º no de Academia de Medicina da Bahia. Ao chegar de férias nos fins de 1908, Manoel Machado trazia a idéia de fundar em nossa capital um clube destinado à prática desse esporte. Animou outros acadêmicos, como ele em férias na cidade, e no dia 31 de dezembro, instalava-se na sua residência, na Praça dos Martírios, o Alagoano Futebol Clube, do qual foi ele aclamado presidente. Como não havia campo para treinar e jogar, o Comendador Ângelo Guimarães emprestou um terreno baldio cercado, na esquina na Rua Ângelo Neto com a Praça Gonçalves Ledo, onde muitos anos depois foram construídas as casas ali existentes.

Em seguida cuidou-se de preparar o espetáculo para o público. Gilberto de Andrade foi um auxiliar eficientíssimo de Manoel Machado. Tinha a seu inteiro dispor um jornal - o Gutemberg – propriedade do pai Dr. Eusébio de Andrade, que em repetidas publicações, algumas quase em tom de apelo, conseguiu que a rapaziada comparecesse a alguns treinos. A maioria nunca sequer tinha visto um jogo de futebol, apenas Manoel Machado, Mario Rego, Amadeu Dourado e mais dois tinham um vago conhecimento das regras do novo esporte.

Depois de vários adiamentos, chegou à tarde memorável da apresentação ao público. No dia 31 de março de 1909, uma quarta feira que não era feriado jogaram dois times. O Floriano que tinha os seguintes jogadores: Orlando Araújo, Manoel Machado, Sebastião Sampaio, Gilberto Andrade, Luiz Duarte, Amarilio Rego. Ismael Acyoly (capitão do time), Álvaro Barros, Barreto Cardoso, Gastão Silveira e Helvécio Auto. E o Deodoro contava com J. Leão do Rego, Amadeu Dourado, Antonio Machado, Américo Passos Filho, Jacintinho Medeiros Filho, Valente de Lima, Mario Rego (capitão do time), Oscar Aguiar, Euclides Aguiar Filho, Carlos Menezes e Silvio Etílico. Cláudio Dobemos Filho foi o arbitro. Guedes Lins e Eraldo Passos foram os juizes de linha.

O jogo pelo lado técnico foi, como se pode avaliar, cheio de faltas e desconhecimento das regras. Entretanto, jamais houve um futebol tão elegante, tão fino como aquele. Não apareceu em campo essa coisa bruta e disforme que é a chuteira. A bola era tratada a pés calçados nas botinas comuns de passeio e seda ou setim eram as faixas que distinguiam os dois times e as meias eram as usuais suspensas por elásticos. Orlando Araújo era o goleiro do Floriano e usava um óculos preso ao pescoço por uma fita larga de seda preta. Seu time venceu por 2x0. O Jornal Gutemberg do dia 1º de abril dava a notícia do jogo acentuando como nota destacada a presença de cerca de cinqüenta senhoritas da elite maceioense. A festa foi abri lhantada pela banda de música do Batalhão Policial, e foi honrada com a presença do Governador do Estado Dr. Euclides Malta. Depois do primeiro jogo, mais dois foram realizados com o mesmo brilho, embora o comparecimento das senhoritas foi menor porque as línguas maldosas espalharam que as moças iam ao campo do Jacutinga apenas para verem as pernas dos rapazes.

Na reabertura das aulas, os acadêmicos retornaram para Recife, Salvador e São Paulo e o futebol em Maceió parou. Somente nas férias seguintes é que a bola voltou a rolar e foi para valer.       

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