Tudo que é bagunça tem que estar associado ao circo?

15/12/2012 07:36 - Fleming
Por Redação
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Fui surpreendido recentemente pelo brilhante texto (via e-mail) do companheiro de trabalho, professor Sandro Beltrão (IFAL). Pedi sua autorização e publico aqui, pois servirá para inúmeras analogias possíveis!

Por Sandro Beltrão

"Devaneios à parte, a estrutura circense, por menor e mais amadora que seja, há que servir como referência à otimização operacional das organizações.

Apesar disso, difama-se o circo quando, pejorativamente, lança-se mão desta entidade milenar para descabidas comparações com o desestruturado universo gerencial que cotidianamente observamos; discrimina-se a "arte" do palhaço, que geração a geração nos tem proporcionado o desligamento do mundo real e o acesso ao mundo dos sonhos e da alegria incondicional. Tudo isso, fruto da ignorância e de se ter incutido a idéia de que "tudo que é bagunça tem que estar associado ao circo".

Tentando descaracterizar e desmitificar este desvio, faz-se importante elencar algumas macro-premissas pertinentes à existência e funcionamento do circo:

- o planejamento operacional;
- a relação custo x benefícios;
- a logística;
- e o marketing.

Considerando-se a condição, digamos nômande, da atividade circense, o constante deslocamento torna ainda mais difícil a adequada operacionalização das suas atividades e a utilização dos recursos requeridos.

Analisando-se mais detalhadamente as premissas supra, pode-se, com efeito, identificar a complexidade que aqui está sendo considerada:
- o circo precisa ter calendário anual de atuação;
- o calendário anual de atuação, determinadamente, envolve a captação de informações sobre público-alvo, rentabilidade, estradas de acesso, tempo de permanências, etc;
- o translado considera estradas de rodagem, pontos de parada para dormida, alimentação, banho, etc;
- a entrada na cidade requer todo um trabalho de apresentação da estrutura e divulgação para os dias de espetáculo subsequentes (visibilidade);
- a instalação do circo é determinada por alvarás de liberação das prefeituras, do corpo de bombeiros, da polícia militar, da vigilância sanitária e de outros;
- a montagem da lona (até 8 torres de sustentação) e das arquibancadas (chegam a 3.500 lugares), leva até quatro dias nos grandes circos, envolvendo equipes de até 150 pessoas, supervisores, guindastes, etc - a que ser vistoriada, inclusive, pelo corpo de bombeiros e pela Delegacia Regional do Trabalho;
- as atividades perifèricas como lanchonetes, seguranças, etc, demanda a contratação de mão-de-obra terceirizada;
- banheiros químicos têm que ser locados;
- cada profissional do circo (até 150 artistas e até 4.500 empregados em até 40 países diferentes) é altamente qualificado e desenvolve a sua atividade com a precisão cirúrgica que garantirá a cada espectador a máxima satisfação;
- previamente, a partir da captação antecipada do público-alvo, o circo estende a sua capacidade faturamento até o último dia da sua turnê;
- o processo de desmontagem do circo segue procedimento ao da montagem e direciona a "trup" circense a uma outra instância de apresentação.

Atualmente, para gerenciamento dos seus negócios, as grandes companhias já lançam mãos de ERP's (Enterprise Resource Planning), sistemas informatizados para Planejamento dos Recursos do Empreendimento, sendo o SAP R/3, de origem alemã e largamente utilizado nos ambientes industriais dos mais diversos segmentos produtivos, o sitema de referência também no mundo do circo.

Assim, há que se utilizar menos o termo "palhaçada", substituindo-o pelo termo "INCOMPETÊNCIA". O circo merece esse respeito."
 

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