O ex-procurador-geral de Justiça Fernando Grella Vieira disse, durante a cerimônia de posse no cargo de secretário de Segurança Pública de São Paulo, que ações contra o crime e respeito aos direitos humanos podem ser conciliados. "(É preciso) desfazer a noção equivocada de que o combate firme ao crime e o respeito aos direitos humanos são excludentes. Não são", disse o novo secretário.
Grella tomou posse em evento na manhã desta quinta-feira (22) no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O governador Geraldo Alckmin e Antônio Ferreira Pinto, que foi exonerado do cargo na quarta-feira (21), participaram da cerimônia.
Segundo Grella, um dos desafios da gestão será "manter a segurança pública no hall das políticas públicas, promovendo a cidadania, combatendo o crime e a violência”.
O novo secretário afirmou ainda que a "seriedade" e a "competência" de Ferreira Pinto são “inquestionáveis”. Grella ressaltou que o trabalho de aperfiçoamento do programa de segurança na ultima década produiziu resultados “altamento positivos” no estado. Segundo ele, a valorização dos policiais e o enfrentamento "destemido" da violência terão continuidade.
Grella disse que pretende aplicar inovações e introduzir novas formas de atuação exigidas pelo momento atual. Segundo ele, é preciso aperfeiçar a transparência, a participação da sociedade civil organizada e a troca de conhecimento entre as polícias.
Ferreira defende Rota
Em seu discurso de despedida do cargo, Ferreira Pinto ressaltou ter realizado mudanças e valorizado a Polícia Civil. Ele ainda elogiou a atuação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) e negou que a Polícia Civil tenha sido afastada das investigações. “Nunca a Polícia Civil foi afastada da investigação e do combate ao crime organizado”, disse.
Ferreira Pinto citou ainda as armas apreendidas e criminosos presos pela Rota. Segundo ele, apenas em 2012, os policiais da Rota apreenderam mais de R$ 15 milhões do crime organizado. “Eu me orgulho de ter prestigiado a Rota para diminuir a sensação de insegurança que assola todos nós (...) A Rota cumpriu seu papel com muita galhardia e volto a dizer que a Polícia Civil não foi afastada das investigações.”
O ex-secretário lembrou de todos os problemas enfrentados à frente da pasta, como as ondas de roubo a condomínios, a joalherias de shoppings, a restaurantes, a caixas eletrônicos e os assaltos a motoristas nas marginais Pinheiros e Tietê, na capital. “Enfrentamos desafio por desafio. Cada época é um desafio”, disse.
Aprimoramento
Na quarta-feira, quando o nome de Grella foi confirmado no cargo, o novo secretário disse ao G1 que o plano de combate à onda de violência no estado precisa de "aprimoramento". "Essa onda de violência é um grande problema. Vai ser preciso muito trabalho e empenho para reverter esse quadro", disse o novo secretário.
A mudança no gabinete de Segurança ocorre no momento em que o estado passa por uma alta em índices de criminalidade. Desde o início do ano, 93 policiais foram mortos em São Paulo. Além disso, a região metropolitana vem registrando média de assassinatos por dia maior que no ano passado.
Parcerias
Na entrevista ao G1, Grella afirmou que as parcerias com o governo federal e o relacionamento com a União serão mantidos. Ele ressaltou, entretanto, que tem ideias para o enfrentar a crise, mas que precisa se informar sobre a situação da pasta. "O plano de segurança está em andamento, mas deve ter alterações em novas versões, requer um aprimoramento", disse.
O novo secretário, entretanto, não especificou se eventuais mudanças devem afetar diretamento os planos de ação conjunta firmados com o governo federal. "Eu assumi um compromisso em relação ao colega (Ferreira Pinto) e só falarei de detalhes do que pretendo fazer após a posse", disse Grella.
O ex-procurador disse ter sido convidado na semana passada pelo governador e ter aceitado o convite durante o fim de semana. "Da minha parte, vai ter muito trabalho e profissionalismo", afirmou.
O secretário adjunto de Segurança Pública, Jair Burgue Manzano, também deixa o cargo. Manzano foi representante da SSP na agência de ação integrada, criada após acordo com a União. O substituto não foi anunciado, segundo a assessoria da pasta.
Dificuldades
Ao realizar o anúncio, o governador afirmou que o governo enfrenta dificuldades com a onda de violência. "Nós reconhecemos as dificuldades que estamos passando e vamos nos empenhar de forma redobrada neste trabalho", disse Alckmin.
Durante evento na Zona Norte, Alckmin elogiou tanto o antigo secretário quanto o sucessor. “O secretário Ferreira Pinto trabalhou conosco quase sete anos, foi um bom secretário de Administração Penitenciária e secretário da Segurança Pública, colocou o cargo à disposição”, disse.
Segundo o governador, Grella tem "grande experiência", tendo atuado por quase 30 anos como promotor e procurador. "Está preparado para a gente dar mais um avanço e São Paulo continuar sendo um dos estados mais seguros em termos de segurança do Brasil", disse.
Perfil
O ex-procurador-geral de Justiça Fernando Grella Vieira, de 54 anos, foi secretário da Procuradoria de Justiça Cível do MP e vice-presidente da Associação Paulista do Ministério Público.
Ele já foi secretário-geral da Confederação Nacional do Ministério Público e atuou no Congresso Nacional no acompanhamento de reformas constitucionais (administrativa, previdenciária e judiciária).
O procurador foi presidente do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça dos Estado e da União nos anos de 2010 e 2011, membro do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo, e representou o MP brasileiro no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.