Os personagens centrais de “Os penetras” são vividos por Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch, que também têm crédito no roteiro da comédia que estreia em 30 de novembro. Mas é à atriz Mariana Ximenes que o diretor do filme, Andrucha Waddington, dedica o elogio mais ostensivo quando trata de seu elenco. “Ela está uma loucura, uma Marilyn Monroe”, afirmou numa rodada de entrevistas em São Paulo para divulgação do longa, da qual o G1 participou. “Eu compararia à Marilyn Monroe em ‘Quanto mais quente melhor’, que inclusive foi a inspiração do cartaz [do filme].”

O comentário justifica-se, em parte, pelo tipo interpretado por Mariana – uma mulher que usa os atributos físicos para fins habitualmente condenáveis. Ou uma mulher “totalmente sem caráter, sem escrúpulo nenhum”, nas palavras da atriz, que deu a entrevista seguinte à de Andrucha.
“Os penetras” tem título autoexplicativo. Adnet é Marco Polo, que se apresenta como uma versão atualizada e golpista do “malandro carioca”. Sterblitch é Beto, sujeito deprimido após o fim de um relacionamento. Eles se conhecem no princípio da trama e passam a circular juntos, graças ao interesse financeiro do primeiro e à carência e ao desespero do segundo. A personagem de Mariana motivará a aproximação inicial e o conflito posterior entre a dupla.

'Quanto mais quente'
Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch surgem juntos na sala de entrevistas. A primeira pergunta é se algum dos dois costumava seguir conduta semelhante à de Marco Polo e Beto, ou seja, invadir eventos alheios. Alegando ser “caretinha” (o primeiro) e falta de “cara de pau” (o segundo), negam. Em seguida, parecem querer demonstrar algum humor, aproveitando-se do significado literal do verbo “penetrar”. “A gente nunca penetrou, não”, diz Sterblitch. Adnet emenda: “Grandes penetradas, não. Pequenas penetradas, discretas...”.
Este é o primeiro trabalho em conjunto dos dois – e Sterblitch faz sua estreia no cinema. O diretor, pouco antes, havia descrito "Os penetras" como “um ‘bromance’, romance de brothers, digamos”, referindo-se ao subgênero que tem na comédia “Se beber, não case!” (2009) uma de suas obras mais populares. “É um filme que se passa em 48 horas [na virada do ano]. Um personagem muda a vida de outro”, conta. “É o adorável canalha que se humaniza [Marco Polo], e aquele chato, malucão, meio bobalhão, psicótico [Beto], de alguma maneira, que fica mais esperto.”

A diferença entre os protagonistas, de algum modo, replica aquela existente entre os intérpretes. “A gente tem um humor diferente [um do outro]”, avalia Adnet, para quem o companheiro faz uma comédia “que tem uma coisa dramática.” Sterblitch passa recibo. “Eu acho mais fácil fazer uma pessoa chorar do que fazer uma pessoa rir. A tristeza é mais próxima do ser humano do que a felicidade, tanto que todo mundo almeja ser feliz. Gostou?”, pergunta ao colega, que fingia comoção ao ouvir a declaração.

O discurso está em acordo com a ideia que Andrucha Waddington diz ter dos filmes cômicos. “Eu acho que a comédia, quando não tem um pouco de tragédia por trás, fica um pouco rasa”, aponta. Em seguida, ele conta que, durante a preparação para o “Os penetras”, fez junto do elenco sessões com comédias do italiano Mario Monicelli, como “Quinteto irreverente” e “Meus caros amigos”. Um dado biográfico do cineasta reitera a influência: Monicelli suicidou-se, em 2010, aos 95, atirando-se da janela de um hospital.

Outra referência, prossegue Andrucha, foi o citado “Quanto mais quente melhor” (1959), de Billy Wilder (1906-2002). Ao saber da comparação com a estrela deste último, Mariana Ximenes não a rejeita. E contrapõe: “Eu adoro ela. [Mas] Bater nessa tecla de sedução eu acho que é pouco, diante dela. Ela não é só uma mulher sedutora. Ela era uma atriz deliciosa”.