Ele estava dormindo a sono solto na porta do supermercado, no Stella Maris, bairro nobre da capital alagoana. Em uma das mãos um saco antes cheio de pipocas, na outra mão o vazio da vida.
Um menino novinho, entre sete e dez anos. Difícil precisar a idade, pois a sujeira das ruas mascarava- lhe a pele preta, como fuligem, acinzentando a história do presente, sem provável futuro.
O menino dormia a sono solto na porta do supermercado e, incrivelmente, ninguém percebia sua presença.
O menino é feito da mesma matéria desses outros que a gente tem casa e chama de filho.
Não vi por perto a mãe do menino. Terá quem zele por seu sono essa criança pequena que dorme, tranquilamente, embaixo da marquise do supermercado e ninguém nota?
Era sábado, ‘ the day after” do dia das crianças.
E, dorme o menino pequeno na porta do supermercado esperando talvez o alimento da alma que lhe dê suporte para a vida, ou quem sabe o brinquedo ou a atenção que não exercitam em sua casa.
Afinal terá casa esse menino?
Dia 12 de outubro é dia das crianças.
De todas?