Milhares de pessoas se manifestaram neste domingo, em Paris, por uma "Europa solidária" e contra a austeridade, após convocação de organizações e partidos, entre elas a Frente de Esquerda, a dois dias do início da avaliação do tratado orçamentário europeu pelo Parlamento. Sob os gritos de "Resistência", a marcha começou às 14h na Praça da Nação. Atrás do cortejo uma bandeira proclamava "Por uma Europa solidária, não ao tratado de austeridade", constatou jornalistas da AFP.

Os 80 mil manifestantes, de acordo com a Frente de Esquerda e o sindicato Solidários, concentraram-se na Praça Itália, ponto final da manifestação. A prefeitura declarou que não indicaria o número de participantes "conforme à prática em relação a uma manifestação de iniciativa de um partido político". "A manifestação foi um sucesso, além de nossas expectativas", comentou a porta-voz dos Solidários, Annick Coupé.

Os organizadores insistiram no caráter "unitário" do movimento, que reuniu militantes de associações, sindicatos e políticos. "Essa manifestação significa a entrada do movimento do povo francês ao lado de outros povos que protestam contra a austeridade", considerou Jean-Luc Melenchon, co-presidente do Partido de Esquerda. O ex-candidato à presidência negou se tratar de uma manifestação de oposição ao governo. "É uma manifestação de oposição às políticas de austeridade", insistiu.

Entre os manifestantes que saíram às ruas em Paris, havia muitas militantes feministas que exibiam cartazes com os dizeres "Mulheres em luta contra a austeridade e a precariedade por uma Europa Solidária". Cerca de 50 funcionários de uma fábrica da Frabil de Gémenos, que parou de produzir há 15 meses, também vieram participar. "Nós votamos pela mudança, não pela continuidade", disse um deles, em referência à vitória de François Hollande nas eleições presidenciais.

Associações
Além dos membros e partidários da Frente de Esquerda e do Novo Partido Anticapitalista, a União Sindical Solidários e vários ramos da Federação Sindical Unitária e da Confederação Geral do Trabalho convocaram manifestações, assim como as associações Attac, Copernic, DAL, Cimade e Act-Up Paris.

O ex-ministro Bruno Le Maire considerou na Rádio J que a manifestação é "lógica e compreensível". "A Frente de Esquerda foi enganada do começo ao fim" e "François Hollande repetiu várias vezes que modificaria o tratado, que iria se encontrar com Merkel, e o resultado: zero modificação", afirmou.

"Aqueles que reclamam por manifestação cometem um erro fundamental", disse, por sua parte, o ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, na emissora Europa 1. Ratificar o tratado da UE incorporando a "regra de ouro" orçamentária "é necessário para reforçar a voz da França enfraquecida" durante os últimos cinco anos, insistiu.

Bruxelas
Outras 1,5 mil pessoas se reuniram neste domingo, em Bruxelas, para protestar contra as políticas de austeridade que, afirmam, aumentam as desigualdades sociais. Os manifestantes reclamaram decisões políticas mais justas na Bélgica e no resto da Europa "que permitam lutar contra a pobreza e repartir equitativamente a prosperidade entre todos", indicou a Confederação Sindical Cristã (CSC), uma das organizações que convocaram a manifestação.