O problema é comum às grandes cidades. Em períodos chuvosos, tanto na periferia como nos bairros nobres, os transtornos são agravados com as enchentes que atingem as casas mais próximas de riachos e canais, afetam famílias inteiras e desalojam uma população que é vítima, muitas vezes, dos próprios erros. Todos já sabem que jogar lixo na rua ou em locais inapropriados causa uma série de problemas, mas a afirmativa não é a regra seguida por muita gente.
Pensando em quantificar os efeitos na rede de drenagem da disposição e destinação inadequadas do lixo, pesquisadores do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (iniciação científica e mestrado), sob a orientação do professor Marllus Gustavo das Neves, desenvolvem um projeto de caracterização e quantificação do lixo em canais, procurando a relação do lixo com a chuva e posteriormente a implantação de uma armadilha de captura do lixo. A área de estudo fica na cabeceira da bacia do Riacho do Sapo, nas proximidades do bairro de Mangabeiras, em Maceió. Atualmente, a equipe utiliza uma armadilha provisória feita a partir de reaproveitamento de um simples portão de ferro obtido em restos de obra do Campus A. C. Simões.
“O que chega nesse riacho é tudo que é jogado nas ruas e no canal da Grota do Cigano, no bairro de Jacintinho, e se fizermos uma relação de consumo versus número de habitantes, podemos ter uma noção da quantidade de lixo jogada nas outras áreas de Maceió”, explica o aluno do 8º período de Engenharia Civil, Pedro Paulo de Carvalho.
O resultado desse trabalho impressiona. Até agora foram quatro capturas de 24h, em dias normais e chuvosos, para comparar a influência das precipitações de chuva no que é retirado da armadilha. O item campeão de presença foi sacola plástica, com um total de 52,74 Kg capturados, em segundo lugar apareceram 43,66 Kg de tecido, mas não menos importantes itens de preocupação, foi observada uma grande quantidade de madeira, latinhas, garrafa pet e as aparentemente inocentes embalagens de biscoito, salgadinho e suco. Até escova de cabelo e tigelas de alumínio foram capturadas num pequeno trecho do Riacho do Sapo.
“Como o consumo de sacolas de supermercado, por exemplo, é constante durante todo o ano, provavelmente serão sempre vistos nos canais de drenagem. E o interessante é que plásticos como sacolas independem da classe social. Já o tecido talvez seja uma característica da população local, bem como madeiras, pelo fato de esta população jogar no canal restos de móveis e roupas. Outros resíduos aparecem de vez em quando, mas podem vir de forma significativa, por causa da chuva”, explica o professor Marllus.
Equipe trabalha em conjunto
Para obter resultados precisos, os alunos do mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento (Luciene da Silva e José Paulo Filho) se uniram aos da Engenharia Ambiental (Lucille de Almeida, Thaís de Oliveira e Yuri dos Santos) e da Engenharia Civil (Pedro Paulo de Carvalho), com orientação e supervisão do professor Marllus Gustavo. Mas, para conseguir êxito no estudo, a equipe conta com o apoio e colaboração da própria comunidade que também ajuda na retirada da armadilha ao final de cada processo de captura.
A ideia do projeto é quantificar e caracterizar o lixo jogado dentro ou nas proximidades da bacia, que é levado pela chuva somada à correnteza, mas os números dos resultados podem ser interpretados pelos prejuízos vistos diariamente na cidade, nas ruas e na praia que contrasta a beleza com a sujeira de cidadãos que devem respeito ao meio ambiente.