O ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski, votou nesta quarta-feira (12) pela absolvição de Geiza dos Santos, ré que ficou conhecida como “funcionária mequetrefe” depois que seu advogado usou a expressão para tentar convencer os ministros que ela apenas cumpria ordens e não sabia de nenhum crime. 

Geiza era a gerente financeira da agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério. Lewandowski iniciou hoje a leitura de seu voto na terceira “fatia” do processo e absolveu duas, das dez pessoas acusadas por lavagem de dinheiro.

A tese da defesa convenceu o ministro e ele alegou que o MPF (Ministério Público Federal) não apresentou provas suficientes para demonstrar que Geiza agiu com intenção de cometer crimes. Para o revisor, a ré era uma funcionária subalterna e acreditava que estava agindo dentro da legalidade.

O MPF acusa Geiza dos Santos de ajudar a distribuir a verba do valerioduto (supostos esquema de distribuição de propina por meio das empresas de Marcos Valério). Ela era funcionária da SMP&B, uma das agências de Valério.

Mas Lewandowski apresentou cópias da carteira de trabalho de Geiza e de e-mails que ela trocou com funcionários do Banco Rural autorizando saque do dinheiro que, segundo a a denúncia, seria “lavado”.

O ministro revisor leu três dos emails e fez questão de destacar a “candura” da funcionária. Ele entendeu que a forma como Geiza tratava os destinatários das mensagens, mandando beijos e abraços ao se despedir, demonstram que ela não sabia da conduta criminosa da empresa. 

— Ela entendia que estava fazendo uma coisa absolutamente normal, que cumpria o papel de empregada da SMP&B. Será que alguém que está fazendo lavagem de dinheiro vai agir de forma tão transparente, mandando cópia de seus emails, usando link institucional das empresas, mandando beijos e abraços?

O revisor destacou também o salário de Geiza, de aproximadamente R$ 1.500. Segundo Lewandowski o valor é baixo, comparou a remuneração à de uma empregada doméstica, e afirmou que isso revela que ela não tinha nenhuma função de direção na empresa. Para o ministro, ela não tinha “noção” dos grandes valores que estavam envolvidos nas operações.

Ao finalizar o voto e pedir a absolvição de Geiza, Lewandowski fez questão de deixar claro que a situação da ré é completamente diferente da dos outros acusados, dando a entender que deve votar pela condenação dos demais envolvidos.