Os ânimos andam bastante inflamados diante da proximidade do início do julgamento mais esperado dos últimos sete anos. O escândalo do mensalão (2005), como ficou conhecido o suposto esquema de compra de votos da bancada governista, tinha como objetivo manter a coesão nas votações de interesse do Executivo, à época comandado por Lula.

Os bastidores dão conta de que o escândalo só ocorreu porque um acordo feito entre o PT e o PTB, em nível nacional, não teria sido honrado pelos “petebistas”, o que teria “vazado” o escândalo de corrupção nos Correios, que por sua vez era gerido por indicados do PTB. A exploração desse esquema pela mídia, e a ameaça da instauração da CPI dos Correios (o que só ocorreu meses depois), motivou a verborragia inesquecível do então Deputado Federal Roberto Jefferson (PTB) denunciando todo o esquema de “mesada” articulado supostamente pela cúpula do PT nacional, em especial José Dirceu, ministro da Casa Civil à época.

As denúncias do Deputado recaíam sobre os principais nomes do PT e acusava toda a bancada aliada de beneficiária do esquema. A confusão foi enorme e o Presidente insistiu que nada sabia. Há um ano das eleições que resultariam em sua permanência na Presidência (2006), Lula optou por uma campanha de reeleição mais distanciada do partido, pois o arranhão à imagem do PT não deveria refletir na pessoa do Presidente.

A estratégia foi boa e o que marcou aquelas eleições foi a aprovação ao governo e não os aludidos desmandos do partido, apesar do empenho de parte da imprensa em incutir a participação do Presidente no esquema. Tal suposição não era difícil de ser imaginada, afinal, ele teria sido o principal beneficiado, já que se tratava da aprovação de matérias de seu interesse (isso numa análise genérica e superficial, pois um esquema como esse beneficia todos os envolvidos, afinal, age contra a democracia e a livre análise dos benefícios e prejuízos à economia popular e ao futuro do Brasil, para favorecimento pessoal).

Hoje, sete anos após o maior escândalo do governo Lula ter sido desmascarado e explorado em rede nacional, o assunto volta à baila em face da proximidade do julgamento dos acusados pelo STF. A imprensa, em sua maioria a que sempre agiu contra Lula, tem sido implacável em reavivar a memória do povo brasileiro quanto ao escândalo e aos envolvidos.

Entretanto, esse comportamento da mídia não é “privilégio” dos “petistas”, dos “mesaleiros” ou dos réus desse processo, mas é também dos envolvidos no Caso da Escola Base de São Paulo, Caso Nardoni, no Caso Giovanna, no Caso Fábio Acioli e em tantos outros espalhados pelo país.

Ainda que os partidários optem por apelar à opinião pública a fim de criar um movimento de ojeriza à mídia que se posiciona contrária às suas disposições, e mesmo que fundamentem suas ações na desídia com que a imprensa tratou o escândalo das privatizações no governo de FHC, nada pode ser mais superficial do que nivelar por baixo qualquer atuação pública de gerenciamento de erário, de locupletamento e de violação às garantias constitucionais.

Processos judiciais são mais complexos do que podemos imaginar, não é à toa que até hoje a opinião pública – ou parte dela – se dedica a condenar Collor mesmo o STF tendo-o absolvido por falta de provas. Coisa que poderá ocorrer agora, no caso Mensalão, mas também no Caso Giovanna, no Caso Fabio Acioli e em outros de clamor popular, como o caso da Escola Base de São Paulo.

Acho lamentável que os partidários e simpatizantes do PT, em especial, ajam com a convicção de que o escândalo não ocorreu, deveriam ter a hombridade de pedir um julgamento justo e uma cobertura isenta, e não agir como se todos fossem inocentes, pois, assim como podem ser, podem não ser. E se não forem, só por serem do PT, do partido de Lula (“o melhor presidente que o Brasil já teve”), culpados não podem ser condenados?

E no final das contas, de quem é a culpa? Devemos mesmo ser superficiais e rasos acusando a mídia de ser a culpada por tudo? Por que ela age assim? Quem compra os jornais? Quem quer ler notícias “espetacularizadas”?

Ora, caros leitores, a exposição midiática de acusados em quaisquer processos é algo que atrai a atenção de todos, devemos canalizar nossas reclamações não à mídia que, por mais que defenda os interesses das Corporações que as sustentam, só o fazem porque os leitores estão acostumados a consumir conteúdo, não a questioná-lo, confrontá-lo.

Acredito que o problema é bem maior, mais profundo, vai além das questões maniqueístas entre o bem e o mal, é uma questão social, atinge a qualidade da educação em nosso país, a qualidade dos livros que são lidos, a qualidade das pessoas que entram e saem das universidades. Esse país precisa muito mais do que números, precisa de formação de qualidade.

Ensinem esse povo a pensar por si e não a concluir pelos outros.