Ela era magra e as rugas do rosto não faziam um diagnóstico da idade. Falavam sim de algo indescritível: a dor do abandono.
Vestia uma blusa vermelha e uma bermuda lilás, das pernas despontavam varizes valentes que inchadas de sangue faziam-na andar arrastado pelas ruas afora. Nos pés uma sandália rasteira.
Ao seu lado um homem puxava um carro de entulhos: de papel a restos de diversos objetos. Ele não vestia camisa, e de pés descalços andavam, a esmo, pela orla da praia da Jatiúca, em Maceió.
Ela gesticulava irritada e com palavras ásperas dizia ao homem: não aguento mais essa vida: minha pressão sobe, minhas pernas doem, tem horas que quero morrer.
O homem ouvia tudo quieto, com o sentimento de nulidade devorando-lhe a macheza nordestina, diante da dor da mulher, que lamentava.
Seriam, talvez, moradores de rua ou “donos” de uma extrema pobreza que os transformavam em objetos invisíveis nas ruas do bairro “nobre”. Órfãos do direito a ter direitos.
Não andavam de mãos dadas, andavam lado a lado, mesmo com os passos confusos de quem não tem para onde ir.
Não havia lágrimas nos olhos da mulher ,só a tristeza na voz que rasgava o silêncio das ruas.
Caminhava, eu, ao lado do casal pela orla de Maceió quando ouvi o grito de socorro: Eu não aguento mais essa vida sem rumo – lamentava a mulher de pele preta ao lado do homem que, mudo baixou a cabeça.
A pobreza é a mãe de todas as violências e o racismo está sempre por perto para dar uma força.
É isso!