Ele virou o queridinho dos brasileiros e sempre tem presença garantida nas carteiras. São úteis nas horas dos pagamentos e considerados os amigos inseparáveis das mulheres, além do tormento para os maridos. Advinhou? São eles mesmos, os cartões de crédito ou débito e que já viraram uma mania nacional.
Segundo uma pesquisa encomendada no ano passado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) ao instituto Datafolha, o número de pessoas que usam cartões para pagar suas comprar é crescente no país. Atualmente o percentual de pessoas que tem o hábito de utilizar os cartões chega a 72,4%, diferente do que acontecia em 2008, quando o percentual era de 68%.
Um dado curioso é que os jovens são quem mais utilizam os cartões. Quase 80% dos entrevistados com idade entre 25 e 34 anos tem cartões de crédito e usam comumente para as mais diversas compras, como é o caso da fisioterapeuta Samara Barbosa. Com 26 anos de idade, a jovem conta que já acumulou dívidas devido o uso descontrolado do cartão de crédito.
“Sempre utilizo para compras e quando o valor é bem alto e vejo que o parcelamento compensa, acabo apostando nisso. Mas já tive problemas porque a gente começa a utilizar sem medidas. Hoje já consigo me controlar mais porque vão surgindo novos objetivos de vida e a gente tem que se monitorar”, explica.
Na bolsa, vários cartões de crédito e a tentação. Para isso, a fisioterapeuta adotou uma medida foi necessária para sua vida. “Já passei por um momento em que devia muito e tive que fazer um acordo com a empresa. Por isso, diminui o número de cartões de crédito e sempre faço contas antes de comprar qualquer coisa. A gente se empolga, mas não podemos esquecer que comprar é bom, mas que as contas depois chegam para pagar e aí começa o pesadelo”, lembrou a jovem.
Outros dados da pesquisa apontam que entre as pessoas ainda mais novas (18 a 24 anos), a presença dos cartões também é das mais expressivas: 71%. No entanto, o maior aumento da posse de cartões deu-se entre quem tem mais de 60 anos, faixa etária na qual a presença de cartões era de 52% há dois anos, e chegou a 68% agora.
Pagamentos com cartões são a maioria
Ir a farmácia, padaria, shopping é sempre motivo de gastar. Mas uma mudança de comportamento começa a se tornar mais comum entre a população, seja por motivos de comodidade ou de segurança: levar menos dinheiro no bolso e utilizar o dinheiro de borracha para os devidos pagamentos.
O que se torna cada vez mais difícil é encontrar um estabelecimentos comerciais que não tenham as famosas maquinetas de cartões de crédito, tornando ainda mais tentadora as compras, até mesmo por suas facilidades.
Quem precisa comprar um aparelho eletrônico atualmente encontra uma variedade de opções de parcelamento que acabam não pesando no bolso do consumidor, mesmo que estejam embutidos juros nas parcelas. Até mesmo a feira do mês pode ser comprada de forma parcelada, a depender do estabelecimento comercial.
Numa lavanderia, localizada no bairro da Ponta Verde, em Maceió, a mania dos cartões de crédito é tendência entre os clientes. De acordo com a gerente da loja, Vera Calvão, pelo menos 60% dos clientes utiliza o cartão de débito, enquanto 30% fazem os pagamentos com os cartões de crédito. O uso da moeda é cada vez mais escasso e significa apenas 10% do faturamento.
E qual a alegação dos clientes para isso? “O que eles falam aqui é que o cartão de crédito é mais fácil de carregar, ou seja, ficam menos expostos do que se precisasse sacar diariamente dinheiro para pagamento das dívidas, principalmente devido essa onda de violência que se presencia diariamente no estado”, explica a gerente, lembrando os constantes assaltos a clientes de agências bancárias, as conhecidas ‘saidinhas de banco’.
Pagar com cartão ou dinheiro é praticamente igual para a empresa. No entanto, quando a conta é quitada por meio do cartão, a empresa paga 5% do faturamento em crédito/débito e um aluguel mensal em média de 80,00 pra ter a maquineta.
“Mas o que é preciso lembrar é que a empresa não pode estipular um valor para a compra. Quando o estabelecimento dispõe da máquina para pagamentos no cartão, está ciente que terá que passar qualquer tipo e valor de compra e isso são previsto no contrato com a operadora. Existem locais que põem limites, mas isso é contra a lei. Lógico que uma compra de R$ 5,00 não é vantagem para o estabelecimento”.
Quando se trata de suas contas pessoas, Vera Calvão diverge da maioria dos consumidores. “Acho que fazer nossos pagamentos em dinheiro nos deixa mais controlados em relação às nossas contas e obrigações. Além do mais, cartões às vezes embutem taxas abusivas, a gente se empolga demais quando o utiliza. O cartão de débito vai pela mesma filosofia. Sempre que pago em dinheiro, fico com pena de quanto está indo embora e economizo mais. Normalmente só uso cartão de débito para supermercado. E saco dinheiro na medida em que preciso. Já calculo meus gastos diários em cima disso, às vezes deixo em casa guardado”, explica.
Economista pede cautela para evitar nome sujo
“O ideal é não utilizar o cartão de crédito ou apenas de forma esporádica. Mas se não tiver como escapar disso, que faça de maneira consciente”. A dica é do economista Jarpa Aramis que vê nos cartões de crédito armadilhas que fazem cada vez mais vítimas no mercado financeiro do Brasil.
Para Aramis, o mais sensato era que a população esquecesse o cartão ou no caso que só fizesse alguma compra utilizando-o quando fosse para ser realizada alguma compra de total necessidade. “Às vezes precisamos comprar algum bem imprescindível, mas para isso é preciso ter um controle para evitar problemas. Até mesmo as parcelas precisam ser analisadas e só valem à pena quando os juros são pequenos”.
O economista alerta que no momento da compra é importante o consumidor pensar na necessidade do produto e caso haja dinheiro na poupança pensar na possibilidade de sua utilização, já que a maioria das dívidas da população é com os cartões de crédito.
“O cartão de crédito é uma renda ilusória, pois é utilizado aleatoriamente. Quando não se sabe administrar de forma correta as dívidas são inevitáveis. Mas não se pode generalizar. Existem dois tipos de consumidores: os conscientes que só gastam o que podem e aqueles que pagam tudo no cartão. A dica é que não se pode comprometer a renda com o cartão de crédito”, coloca o economista.
Mas e se o nome acabou indo parar na lista negra do Serviço de Proteção ao Crédito, o famoso e temido SPC, o que fazer? Para o economista, o melhor caminho é analisar a situação financeira, transformar a dívida numa só e negociar, encontrando parcelas razoáveis para que o dinheiro das necessidades seja mantido.
Veja outras dicas para o uso consciente do cartão de crédito
- O parcelamento de qualquer compra só deve ser sem juros.
- Se precisa utilizar o cartão de crédito para compras, como feira, combustível, é importante que esse gasto esteja devidamente incluído no orçamento mensal.
- Faça um planejamento de acordo com o seu orçamento. É importante que seja determinado o limite de gastos mensais com o cartão e com o que ele será usado.
- Quem gosta de comprar de maneira impulsiva é melhor evitar os cartões de crédito ou só levar na carteira caso esteja consciente de uma compra que precisa ser feita e seja extremamente necessária.
- Não se iluda com os pagamentos mínimos nas faturas. O melhor a ser feito é pagar de forma integral e até a data do vencimento, evitando desta forma um aumento da dívida. Ser um bom pagador traz vantagens diante da empresa.
- Se quer fazer uma planilha, basta acessar a internet. Existem sites que as oferecem para serem baixadas e ajudam na utilização de um planejamento do uso correto do cartão.
- Cartão de crédito é dinheiro, embora na hora da compra não haja a necessidade de ter a moeda em mãos, a fatura chega depois e é preciso quitá-la. As compras vão gerar gastos e devem ser incluídos no orçamento mensal.
- Toda a família precisa ter consciência da utilização adequada do cartão de crédito.
- Cartão de crédito e cheque especial são equivalentes, tem custos elevadíssimos. A dica de quem entende do assunto é que devem ser evitados.
- Tomar empréstimo para quitar dívidas é uma solução ainda pior, já que os juros cobrados são enormes. Só faça caso a situação seja insustentável.