Goiânia e Aparecida já registram 300 casos de abuso sexual só este ano

31/05/2012 19:25 - Brasil/Mundo
Por Redação

A capital de Goiás e Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana, já registraram somente até maio deste ano cerca de 300 boletins de ocorrência sobre abuso sexual infantil.

Segundo dados da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), do dia 1º de janeiro até o último dia 28, foram 118 boletins de ocorrência e 109 denúncias em Goiânia contra 181 casos registrados em Aparecida. No ano passado, a DPCA da capital registrou 257 boletins de ocorrência de abuso de crianças e adolescentes e 311 denúncias anônimas.

Os números assustam e preocupam os moradores que, muitas vezes, não sabem onde recorrer. Goiânia tem apenas dois abrigos que acolhem crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica: o Centro de Valorização da Mulher (Cevam), que hoje está atendendo 48 pessoas, e o Condomínio Sol Nascente, que desde março deste ano não recebe mais nenhuma criança por causa da superlotação.

O número de casos de violência doméstica, principalmente de abuso sexual, aumenta a cada ano. Somente o Conselho Tutelar de Goiânia atende por dia cerca de 15 casos de crianças e adolescentes que sofrem violência.

Uma criança de apenas 12 anos está abrigada no Cevam há dois meses com os seis irmãos. Para ela, a vida agora está melhor. Durante a entrevista, a menina fica o tempo todo de cabeça baixa. Fala sobre a violência física, maus-tratos, vergonha, mas em nenhum momento cita os abusos sexuais que sofria com apoio da própria mãe, que fazia com que ela e a irmã mais velha se prostituíssem em troca de dinheiro, aparelho celular ou até mesmo um botijão de gás.

“Eu apanhava do meu padrasto e das minhas irmãs. Quando eu completar 18 anos eu vou arranjar um emprego para mim. A minha mãe falou para eu sair daqui e estudar e arrumar um serviço que ela vai cuidar dos meninos para eu poder fazer alguma coisa por mim”, diz.

Interior
No interior do estado, os casos de violência sexual contra menores também não param de acontecer e a dificuldade para chegar até os autores dos crimes ainda é muito grande.

Em Luziânia, município próximo a Brasília, 52 crianças foram violentadas desde maio do ano passado. E quase metade dos abusos aconteceu nos primeiros cinco meses de 2012. De acordo com a Delegacia da Mulher, somente neste ano, foram registradas 25 ocorrências de crimes sexuais na cidade. Na maior parte, as vítimas são crianças e adolescentes.

“Muitas vezes são vítimas de padrasto, namorados de mãe, tios, enfim, pessoas que têm livre acesso e a confiança dessa criança e dos responsáveis por ele”, afirma a delegada Dilamar Aparecida de Castro Souza.

Foi o que aconteceu em Santo Antônio do Descoberto há pouco mais de um mês. Uma criança de apenas seis meses de idade foi violentada pelos pais e morta em seguida. O caso revoltou os moradores do município. Os pais foram presos e se condenados podem pegar até quarenta anos de prisão.

Mas na maioria dos casos os autores continuam soltos e a maior dificuldade para encontrar os suspeitos começa com a vítima, que muitas vezes não tem coragem de fazer a denúncia. “É difícil. Às vezes, essa vítima fazer a denúncia, romper o silêncio e comentar com um terceiro. Isso acontece por medo ou por uma relação de afeto que se desenvolve entre a vítima e o autor”, explica a delegada.

Dificuldade que também acontece em Anápolis, na região central do estado. No município, mais de 200 inquéritos sobre violência sexual foram abertos nos últimos dois anos, mas em nenhum dos casos os autores foram presos. E nos primeiros meses de 2012 já foram 120 denúncias.

“Nós temos notado um crescente aumento nos casos que pode estar relacionado, muitas vezes, à ausência dos pais, por omissão ou por necessidade de sustento mesmo, mas que deixam as crianças expostas podendo levá-las à condição de vítima”, afirma a delegada Kênia Segantini, de Anápolis.

Cuidados
A psicóloga da DPCA, Daniele Pereira e Silva, alerta para os cuidados que os pais ou responsáveis devem ter para identificar se os filhos estão tendo algum tipo de problema: “Cada criança pode se manifestar de um jeito, mas existem comportamento semelhantes como agressividade, dificuldades na escola como falta de atenção, isolamento”.

Para ela, o diálogo alertando sobre os riscos pode ser uma maneira de prevenção. “É claro que os pais precisam observar a a capacidade de entendimento dessa criança. Por isso, é importante estar sempre observando-os. É importante uma conversa sobre autoproteção para que a criança perceba as ações que não são usuais”, adverte.

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