Réquiem.

28/05/2012 18:33 - Raízes da África
Por Arísia Barros

O menino tinha só doze anos e morreu com um tiro que esfacelou-lhe o cérebro e os sonhos de futuro.
No dia da sua morte o menino tornou-se visível para a sociedade. Virou manchete na página policial. A morte do menino foi tratada com desdém. Alguns pararam, rapidamente, no caminho entre o trabalho e a urgência de logo chegar. Olhavam de soslaio e incorporaram a conivência estatal: foi droga! Na tosca explicação do extermínio de uma vida que mal florescera. É sempre assim com a morte dos tantos meninos pobres, pretos e periféricos.
Ninguém acendeu uma vela para que a alma infante trilhasse o caminho da luz. A pobreza em vida condenou-o a viver nas sombras da história. Só a mãe que desfiava um choro baixinho molhando de emoção verdadeira a apática solidariedade do povaréu no entorno. Só a mãe chorava seu menino.
Uma criança foi morta no meio da rua. E lágrimas congeladas cutucavam motivos. Foi a droga- diziam os mais apressados em acalmar a consciência e seguiam adiante, afinal ninguém tem nada a ver com isso, não é mesmo?
Os cantos e recantos do estado de Alagoas estão coalhados de corpos expostos, como objetos amontoados, em chão demarcado por valores próprios.
Muitos corpos, outros tantos pretos, pobres e periféricos encapsulados na acidez do olho estatal. Dilacerados pelas mãos brutais da ausência de política pública. É assassinato em massa de multidões anônimas, enterradas em rasas valas.
Valas rasas, como territórios diminutos, que contam e recontam uma trágica paz de cemitério.
As muitas morte em Alagoas estreitam os caminhos do futuro . O genocídio da população, dentre eles os pobres e pretos e periféricos é o diálogo mudo do poder estatal com a limpeza étnica.
Pobre e preto morto é a concepção mecanicista de liberdade social.
Alagoas é uma terra que tem suas vísceras expostas e o governo faz o quê?
E o povo continua a tratar a mortandade de pobre preto e periférico como arquivo morto da memória.
É isso?

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