O quadro, intitulado "The spear" ("A lança"), faz parte da exposição "Deus salve o ladrão II" e está exibido na galeria Goodman de Johanesburgo desde 10 de maio, informaram nesta sexta-feira (18) os meios de comunicação sul-africanos.

A obra mostra o presidente Zuma em uma simulação de um popular quadro do líder comunista soviético Vladimir Lênin, mas com a diferença que no retrato do chefe de estado sul-africano seu órgão sexual pode ser visto.

A presidência da África do Sul se mostrou revoltada com a pintura "grotesca" de Murray, e desaprovou o artista. "O presidente da África do Sul defenderá sempre os direitos de nossa constituição, inclusive a liberdade artística e de expressão, mas no exercício destes direitos, os cidadãos devem entender que eles não são absolutos", ressaltou nesta sexta o gabinete do presidente Zuma em comunicado.

"Além de chefe de Estado, o presidente Zuma é um cidadão e tem direito a conservar sua dignidade. Nenhum ser humano merece ser denegrido desta maneira", disse a presidência.

Da mesma forma, o partido governante, o Congresso Nacional Africano (CNA), anunciou em comunicado que deu início às ações legais para impedir a exibição da obra e exigir a destruição de todo o material gráfico que a reproduza. "O CNA está extremamente descontente com a maneira indecente e de mau gosto que Brett Murray e a galeria Goodman estão mostrando o presidente Zuma", afirmou o partido em nota oficial.

A exposição utiliza referências da arte comunista para mostrar a corrupção política e ideológica do CNA, um movimento de libertação de inspirado no socialismo que teve um papel fundamental na luta contra o regime racista do "apartheid", imposto pela minoria branca sul-africana.

"O retrato grosseiro e a utilização do logotipo do CNA é um abuso da liberdade artística e de expressão e uma violação de nossa constituição, além de ser difamatório", acrescentou o partido governamental, liderado anteriormente pelo ex-presidente Nelson Mandela.

O retrato pode ser visto no site do jornal sul-africano "Citypress", apesar de os advogados do CNA reivindicarem a sua retirada ao meio de comunicação. "A reivindicação carece de base jurídica", indicou o jornal em comunicado divulgado em seu site.

A galeria Gooodman, onde está exibida a obra de Murray, também afirmou que não retirará o quadro e qualificou as intenções do CNA de "censura". Lara Koseff, porta-voz da galeria, disse nesta sexta que sempre defendeu seus artistas, inclusive durante o "apartheid".

"Quando inauguramos a exposição me lembrei do artista chinês Ai Weiwei, que foi perseguido por retratar negativamente seu governo", explicou Koseff para o jornal sul-africano "Times".

"Pensei que nós éramos afortunados por estar em uma situação diferente, por poder ter estes diálogos artísticos. No entanto, parece que alguém quer mudar estas coisas", acrescentou Lara.