Após nove anos acampados nas fazendas Faceira e Angico (hoje de propriedade do Prefeito de Campo Grande, Antônio Higino Lessa – PTB), integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) receberam ameaças de morte em Traipu-AL (a 188km de Maceió). Segundo trabalhadores do assentamento Jacobina, três homens de moto entraram no assentamento, onde vivem militantes e lideranças do MST na região, perguntando pelos mesmos.
Ainda segundo os agricultores interceptados, os jagunços reagiram à recusa dos moradores de indicarem o paradeiro das lideranças: “disseram palavrões e que voltariam, porque de nós, queriam somente a cabeça”. Há nove anos as fazendas Angico e Faceira foram ocupadas pela primeira vez pelo MST e desde que o mandatário da cidade vizinha comprou as terras, tem se intensificado o número de ameaças e a pressão para que os Sem Terra desocupem o local.
“Alguns gestores públicos só enxergam os trabalhadores rurais nessas ocasiões. Aquele que deveria estar a serviço do povo, hoje se posiciona claramente contra. Abusando do poder para ir de encontro aos direitos dos trabalhadores”, alerta a Direção Estadual do Movimento. Mesmo com as constantes ameaças, os acampados vão continuar na área, resistindo e fazendo frente ao abuso de autoridade do prefeito. Os dirigentes ameaçados foram indicados a fazer um Boletim de Ocorrência.
A situação não é nova: em abril, durante a semana em que todo Estado estava em luta na passagem do dia 17 de abril (marco do Massacre de Eldorado dos Carajás), o próprio Antônio Higino Lessa (PTB), prefeito de Campo Grande, esteve nos acampamentos Angico e Faceira tentando corromper lideranças em seu favor. Ele mesmo, o mandatário, anunciou que voltaria com máquinas para retirar os trabalhadores.
Lançado recentemente, o Caderno de Conflitos no Campo-2011, criado e mantido como publicação anual pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), indica um crescimento dos conflitos no campo brasileiro e alagoano. No país, os conflitos passaram de 1.186 para 1.363, registrando um aumento de 15% no total em comparação a 2010. As pessoas envolvidas passaram de 559.400, em 2010, para 600.925, em 2011. Em alagoas o número foi de 33 para 47 conflitos.
Estes números revelam a face violenta do latifúndio brasileiro que, não satisfeito com a violência social, exclusão das famílias das terras cultiváveis para favelas nas cidades ou novas ilhas de pobreza rural, passam à violência direta, física, contra aqueles que ousam questionar sua autoridade. A pistolagem é marca da dominação da elite alagoana e muitos destes coronéis se encontram protegidos por trás da institucionalidade de mandatos públicos, eletivos ou não.