Um tesouro impagável. Assim é o legado cultural deixado pelo radialista e compositor Edécio Lopes. A partir do próximo dia 25 de maio, no Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa), esta herança cultural poderá ser conferida no Espaço Cultural Edécio Lopes.
No “cantinho” do Edécio, os admiradores da cultura terão à disposição um acervo de títulos e peças colecionadas ao longo de mais de 50 anos de carreira do radialista pernambucano – mas alagoano de coração. No acervo, estão livros antigos e bem-conservados discos de vinil, CDs, fotografias, materiais radiofônicos, áudios de seus programas e engenhocas da época de ouro do rádio, da qual Edécio Lopes brilhantemente fez parte.
Em uma espécie de pré-estreia do Espaço Cultural, que será entregue ao público junto com a reabertura do Misa, a família foi em peso conferir os últimos detalhes do local dedicado ao saudoso radialista, que morreu em 21 de janeiro de 2009, aos 75 anos de idade.
“É um valor incalculável, que não tem preço,” resume, emocionado, Ednaldo Vasconcelos, um dos quatro filhos de Edécio Lopes, em visita ao cantinho dedicado ao legado do pai. Na oportunidade, também estiveram presentes a viúva do radialista, Olindina Lopes, dos filhos Edvaldo, Edmilson e Edméia, além da terceira geração do compositor, a neta Aline Vasconcelos.
Morando na Suécia, Aline fez questão de vir a Maceió para registrar tudo. “Sinto-me bastante orgulhosa de ver todo o acervo à disposição do público que admirava o trabalho de meu avô. Isso me traz uma recordação carinhosa, porque vejo aqui no Misa muita coisa em que eu mexia e remexia quando criança, como as velhas vitrolas”, lembra Aline.
A fiel companheira de Edécio, dona Olindina, também falou sobre a emoção de ter um local dedicado ao marido. “É muita emoção com mais uma homenagem a Edécio. O valor sentimental das coisinhas que ele reuniu em mais de 50 anos é indecifrável”, destaca a sempre companheira.
Manhãs Brasileiras
No acervo doado pela família ao Misa, por meio de contrato de comodato com o Governo de Alagoas, o público vai encontrar, entre outras preciosidades, a inesquecível abertura do programa Manhãs Brasileiras, que literalmente despertou a população alagoana durante várias décadas, em diversos prefixos radiofônicos por onde Edécio deu seu recado “verde e amarelo”, como costumava dizer em um de seus bordões.
Ao som do Rei da Voz, Francisco Alves, e da marcante Dalva de Oliveira cantando em dueto a música "Brasil", composta por Benedito Lacerda e Aldo Cabral (gravada em 1939), começava, todos os dias, a manhã de milhares de alagoanos.
O programa Manhãs Brasileiras foi ao ar pela primeira vez em 12 de outubro de 1965, na grade inaugural da Rádio Liberdade de Caruaru. Desde então, começava uma defesa intransigente da boa música nacional de todos os gêneros: samba, valsa, choro, baião, coco, marchas e, principalmente, o frevo de rua, de bloco e canção.
Além das músicas, o programa foi palco, durante as décadas de 70 e 80, em plena ditadura militar, de entrevistas históricas e grandiosos debates entre candidatos a cargos eletivos do governo e da oposição. O programa foi, durante muito tempo, o único espaço democrático para a exposição das ideias de figuras políticas que marcaram época em Alagoas.
No Espaço Cultural Edécio Lopes também poderá ser vista a famosa foto de um debate entre os candidatos ao Governo do Estado, José Moura Rocha e Divaldo Suruagy, em plena ditadura militar.
Nos 43 anos que se seguiram após sua primeira audição, o programa esteve no ar em aproximadamente 12.300 audições e com um único e insubstituível apresentador: Edécio Lopes.