Formado no início dos anos 1980, o grupo britânico James, que se apresenta em São Paulo nesta segunda-feira (30), alcançou reconhecimento fora da Inglaterra entre o fim daquela década e o princípio da seguinte. Mas nunca chegou a se tornar, aos olhos do grande público, nome do frente do rock estrangeiro. Diante da constatação, Larry Gott, guitarrista do grupo, admite: “Eu acho que o James sempre terrível em se promover. Talvez nós devêssemos aprender a manipular a mídia, como a Lady Gaga...”.
Ao citar a cantora durante a conversa por telefone com o G1, contudo, Gott não demonstra rancor. Ao contrário, conta que se interessa por ela. O músico toca no assunto quanto perguntado se incomoda o fato de muita gente, apesar de conhecer ou eventualmente apreciar um ou outro “hit” do James, não saber quase nada banda. Não associar o autor à obra. Obra da qual fazem parte sucessos relativos, caso de “Sit Down” e “Born of Frustration”.
Mas o James, a despeito da obscuridade aparente, tem relações estreitas com um marcante “movimento” do pop alternativo, a chamada “cena de Madchester”. O nome é uma brincadeira com a cidade onde tudo aconteceu, de onde saíram artistas com Stone Roses e Happy Mondays. Eles eclodiram, justamente, a partir do final da década de 1980, concedendo holofotes também ao James. Gott reconhece, inclusive, que seu grupo foi um “precursor” daquele panorama, cuja principal característica era a mistura de rock e dance music vendida sob o rótulo da gravadora Factory, “lenda” entre os iniciados.
O James excursiona hoje com sete integrantes. Do núcleo original, permanecem o vocalista Tim Booth e o baixista Jim Glennie. Gott entrou para o time em 1983, a tempo de gravar o primeiro disco, “Stutter”, que viria três anos adiante. Completam a atual formação Saul Davies, na guitarra e no violino; Mark Hunter, nos teclados; David Baynton-Power, na bateria; e Andy Diagram, no trompete. Com mais de dez álbuns no currículo, o James passou anos fora de atividade, a partir de 2001. O regresso veio em 2008, com "Hey Ma" e, nas temporadas recentes, a banda tem vivido uma espécie de "renascimento", na esteira do lançamento dos "miniálbums" "The Night Before" e "The Morning After", de 2010.
Nesta entrevista ao G1, Gott também falou sobre o Oasis, banda conterrânea da sua. É que não era raro, nas passagens do Oasis pelo Brasil, os fãs cometerem esta gafe: vestiam camisas do Manchester United. Era o time de futebol errado – os irmãos Gallagher, líderes da banda, são torcedores do Manchester City. Sendo ambas agremiações da mesma cidade, fica fácil entender a rivalidade existente entre elas. Gott tranquiliza: os brasileiros podem trajar o que quiser no show do James.
G1 – Para qual time os caras do James torcem, United ou City? Pergunto isso porque, nos shows do Oasis, vários fãs da banda erraram o time dos irmãos Gallagher, e acho que você deveria evitar que os admiradores do James cometessem o mesmo erro.
Larry Gott – (Risos) Eu não sou um fã de futebol ou esportes. Mas, vivendo em Manchester, sempre foi mais seguro – eu acho – não ser nem red [United] nem blue [City]. Se você é um ou outro, isso pode gerar problemas e brigas. Jim é torcedor do Manchester City. Tim torce para o Leeds United, Soul acho que para o Barcelona... Deixe-me ver, Mark, o tecladista, torce para o Arsenal... Então, como você pode ver, o James, como um todo, não torce para este ou aquele time.
G1 – Então os fãs estão liberados? Não estarão correndo qualquer risco se vestirem camisas do United ou do City?
Gott – Isso. Ou se usarem camisas do Arsenal. Eles podem vestir qualquer coisa que quiserem (risos).
G1 – A banda existe desde o começo dos anos 1980, mas só passou a ser mais conhecida pelo grande público mais tarde, inclusive quando emergiu a cena de “Madchester”. Acha que isso pode ter sido uma vantagem, que estavam mais preparados?
Gott – Bem, nós só estávamos tocando nosso som quando [no começo da banda] fomos colocados em capas de revistas de música e coisas assim. Sentimos que ganhamos atenção muito rapidamente, éramos bastante jovens. Depois, tivemos uns anos para amadurecer. Quando aconteceu a cena de Madchester, estávamos prontos para levar o James ao nível seguinte. Nós ganhamos atenção de novo, a mídia colocou os grupos de Manchester no foco, e isso certamente nos ajudou.
G1 – Vocês enxergam a si próprios como precursores da cena de “Madchester”?
Gott – Nós temos de nos enxergar como precursores, porque, quando atingimos algum sucesso, não uma havia “cena de Manchester”. Nós tentávamos, desde sempre, ajudar as bandas de lá. Temos muita sorte de, quando começamos, grupos como o New Order – e, antes, o Joy Division [banda de origem dos integrantes do New Order] –, todos nos deram bastante ajuda: participamos de turnês fazendo shows de abertura. Aí, quando nós começamos nossas próprias turnês, chamamos grupos mais novos para nos acompanhar – caso do Happy Mondays, ou até do Stone Roses, que abriram para nós um dia. E continuamos fazendo a mesma coisa. Manchester ainda é uma cidade musical.
G1 – Na sua opinião, qual a maior contribuição do “movimento Madchester” para a música pop?
Gott – Provavelmente, a mistura de groove, house, encontrando-se com o rock and roll, com as guitarras. [A maior contribuição] Foi tornar o rock and roll dançável, algo para fazer você mexer não só a cabeça, mas mexer seu corpo também.
G1 – “Sit Down” é sua música mais popular, mesmo no Brasil. O James não está cansado de tocar essa música?
Gott – Oh, não… É a nossa música mais conhecida no Brasil?
G1 – Eu acho que sim.
Gott – Depende do país. Se considerarmos Portugal, por exemplo, poderia ser “Born of Frustration”. Na Grã-Bretanha, “Say Something"...
G1 – “Born of Frustration” também é relativamente conhecida no Brasil, mas “Sit Down” talvez seja maior.
Gott – Entendo. Além dessas duas, quais de nossas músicas são populares no Brasil? “Laid” fez sucesso por aí?
G1 – Talvez. Mas não como as outras.
Gott – Alguma outra?
G1 – Acho que são essas.
Gott – Ah, ok.
G1 - Este será o primeiro show do James no Brasil. Que reação espera despertar?
Gott - Nós estamos esperando o imprevisível. Nós realmente não sabemos o que esperar.
G1 – Você não se incomoda com o fato de muita gente gostar de músicas como “Sit Down” ou “Born of frustration” mas não saber que são músicas do James? As pessoas podem até ouvir às vezes, mas não fazem ideia de quem toca...
Gott – Eu acho que o James sempre foi terrível em promover a banda. Nós somos mais músicos do que celebridades. Talvez nós devêssemos aprender a manipular a mídia, como a Lady Gaga...
G1 – Você acha mesmo que ela faz isso?
Gott – (Risos) Bem, as pessoas conhecem a Lady Gaga sem conhecer as músicas dela. Eu acho que as pessoas conhecem as músicas do James sem conhecer o James – é meio que o contrário. Madonna costumava fazer isso muito bem, elas são boas em se tornar ícones mais do que em fazer músicas icônicas. Eu me interesso pela Lady Gaga, ela é muito interessante como performer, o jeito como ela toca piano.
G1 – No ano passado, vocês tocaram num festival que tinha na escalação grupos como Kaiser Chiefes e The Killers. Neste mês de abril, tocaram no Coachella, outro evento de música jovem. Que acha de o James se apresentar para um público jovem, gente que sequer havia nascido quando a banda começou?
Gott – (Risos) Mas é sempre empolgante tocar para pessoas que não conhecem sua música. Ou não conhecem a sua música muito bem. O Coachella foi transmitido no YouTube, ao vivo, e acho que nós fomos a primeira banda a aparecer, porque tocamos na sexta-feira à tarde. Depois disso, o número de pessoas que passaram a nos acompanhar no Facebook cresceu muito: gente querendo saber quem somos, essas coisas. Mas espero que no Brasil tenha muita gente que esteja nos esperando há muito tempo. E que seja como se estivéssemos tocando para fãs antigos, que, embora nunca tenham nos encontrado, nos conheça através de nossa música.
G1 – Recentemente, você escreveu no blog do James um post intitulado “Twitter vs blogging”. Você diz algo algo como: “Eu não sei o que é pior – um homem crescido 'tuitando' ou 'esganiçando' [tradução livre para "twittering"]. Que acha desse tipo de contato com os fãs? Não era algo comum quando você começou.
Gott – Não, não era. Eu estou começando devagar. Comecei com um blog de fotos em 2007, e isso consumia tempo, fazer download, postar, ajustar o tamanho das imagens... Usar o Twitter é muito mais rápido, e muito mais fácil, ele parece conectar você mais às pessoas. Porque é como se você estivesse falando com elas constantemente, enquanto o blog é como ler um diário ao final do dia.
James em São Paulo
Quando: 30 de abril (segunda-feira), às 23h30.
Onde: Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade.
Ingressos: R$ 120 ou R$ 60 (meia entrada).