Bonitos, exóticos e de aparência inconfundível. Os animais silvestres são vítimas constantes de um comércio ilegal que os levam a extinção. Algumas pessoas levadas pela tradição do interior do Brasil têm o mau hábito de criar diversos desses animais como sendo de estimação, não imaginando o que eles passaram para estar em suas casas.

O tráfico de animais silvestres é o terceiro maior negócio ilegal do mundo, e que só no Brasil movimenta aproximadamente 700 milhões de dólares por ano. Cerca de 20 milhões de filhotes de aves e mamíferos são arrancados de seus ninhos e tocas todo o ano. Desses, apenas 1% chega ao destino final; o restante morre nas mãos dos traficantes devido aos maus tratos. Ou seja, a cada dez filhotes arrancados de seu habitat natural, nove morrem. Os que sobrevivem chegam aos consumidores e, alguns, são recuperados em flagrantes, mas jamais poderão retornar à natureza, sendo condenados a viver em cativeiro.

Em escalas de mais rentáveis, o tráfico de animais só perde para o tráfico de drogas e de armas, causando assim, danos irreparáveis na natureza. A cada ano, o número de tráfico só aumenta, por ser um negócio altamente lucrativo. Com a retirada ilegal desses animais, várias espécies deixaram de existir, consequentemente, há todo um desequilíbrio ecológico.

Quanto mais raro melhor

Macacos, araras, corujas e até mesmo animais exóticos, servem o prazer que algumas pessoas têm de possuir um animal exótico em casa. Quanto mais raro for o animal, maior é o valor que é pago por ele, assim os animais em extinção são os mais cobiçados. No Brasil, mais de 600 espécies de animais encontram-se ameaçadas de extinção.

Os animais capturados vêm, principalmente, das regiões Nordeste e Norte e são encaminhados para São Paulo e Rio de Janeiro de onde partem para o exterior, geralmente pelos aeroportos de Cumbica e Galeão. Outra saída é pelas fronteiras para Argentina, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Guianas e, principalmente, o Suriname, através de caminhões. Porém, o tráfico internacional é mais sofisticado e envolve grandes empresas e pessoas milionárias.

O técnico do IBAMA Marius Belluci explica que os animais morrem a partir do momento que são retirados da natureza. “Esses animais para a natureza morreram no dia que foram retirados. Se eles morrem durante o transporte do tráfico, não importa, porque eles já estavam mortos. Nada se salva. Parece um número exagerado, mas é a realidade”, disse.

Falta de fiscalização

De acordo com o chefe técnico de meio ambiente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Rivaldo Couto, em termos de Nordeste, Alagoas não é rota principal, tendo Bahia como o campeão da rota do tráfico.

“Temos apenas um efetivo de dez fiscais para coibir o tráfico de animais e atendemos todo o estado. É humanamente impossível fazer esse trabalho. Contamos com a ajuda da Polícia Rodoviária Federal, do Batalhão Ambiental para conseguir apreender e ajudar esses animais”, afirmou.

Hoje, a maioria dos animais é apreendida em feiras livres, as principais são localizadas nos bairros do Tabuleiro do Martins, Levada e Benedito Bentes, na capital alagoana. “Temos um cronograma de apreensões. Algumas vezes contamos com o apoio do Batalhão Ambiental para tentar inibir a comercialização, eles ficam com as viaturas dentro das feiras, o que coíbe a ação. Poderíamos fazer muito mais, mas infelizmente temos muitas limitações”, frisou Rivaldo.

Criadouro licenciado

Rivaldo explica que quando os animais são apreendidos, eles passam por uma avaliação médica no IBAMA para saber qual o real estado de saúde deles. “Quando fazemos apreensões, os animais passam pelo nosso Centro de Triagem de Animais Silvestres (CTAS), onde eles são vacinados, e medicados. A maioria chega machucada devido ao transporte que são submetidos. Nós deixamos esses animais por um curto período de tempo até encontrarmos um local licenciado para soltarmos” disse.

Em Alagoas, há centro licenciado para a soltura em Coruripe e no Cinturão Verde, localizado na Braskem. “Em algumas dessas áreas há registros que a população aumentou, e não são apenas os animais, mas como também as espécies de mata”, destacou.

Porém, o que pode ser observado nos criadouros autorizados é que os animais apreendidos não podem ser vendidos, mas os seus filhotes, sim, o que mostra que o tráfico está presente até mesmo dentro dos criadouros. O que surgiu com a premissa de ser mais um forte instrumento no combate ao comércio ilegal, tornou-se fachada contra o tráfico internacional.

Em parceria com a Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), o IBAMA está realizando uma revisão dos criadouros de todo o país.

"Tem muita gente que liaga para o IBAMA querendo que agente forneça um documento legalizando o animal. Mas como você legalizar o que é ilegal?", indagou Marius Belluci.

IBAMA

O CadaMinuto foi até a sede do IBAMA para conhecer um pouco mais sobre o trabalho desses defensores da natureza. No hospital veterinário, a reportagem pode comprovar a variedade de animais apreendidos.

O técnico Marius Belluci nos mostrou os vários animais vítima do tráfico, a maior parte deles são aves, como papagaios e araras. “No hospital há várias espécies, aqui todos são vermifugados e estão à espera de criadouros. Aqui temos papagaios, raposas, corujas, macacos prego, cágados. Poucos desses animais conseguem voltar para a natureza, porque eles perdem seus extintos e por isso, acabam morrendo. Por isso, temos que deixá-los em criadouros ou em zoológicos. Como aqui não há zoológicos, deixamos nos criadouros”, afirmou.

Marius explica ainda que muitas pessoas acreditam que depois de “domesticados”, se eles saírem de suas casas, eles morrem. “Isso é puro mito. Quando eles estão nas casas eles tendem a ser mais mansos, mas isso não significa que eles irão morrer. Certo que eles não podem mais voltar para a natureza, mas eles podem ir sim para criadouros”, afirmou.

Entrega voluntária

O IBAMA tem um programa de entrega voluntária que funciona da seguinte maneira: quem tiver algum animal silvestre e quiser entregar de forma voluntária, não sofre nenhuma pena com isso. “Fazemos essas campanhas justamente para alertar e tentar conscientizar a sociedade. Temos uma procura considerável de pessoas que se arrependem”, afirmou o técnico do IBAMA Marius Belluci.

Esse trabalho de entrega voluntária vai mais além. “As pessoas têm que entender que esses animais não são domésticos e que precisam da natureza para completarem seu ciclo. Quando eles vão parar nas casas eles perdem todo o extinto selvagem.

Penalidades para o tráfico de animais

Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativo ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, pode pegar pena de seis meses a um ano mais multa. A multa pode variar entre R$500 a R$5.000 por espécie.

Quem tiver alguma denúncia relacionada com animais silvestres, basta entrar em contato com o disque denúncia do IBAMA pelo telefone 0800-618080. Já quem tiver um animal em casa e se interessar pela entrega voluntária, pode ligar para o 2122-8300 ou ir até a sede do IBAMA localizada na Avenida Fernandes Lima, n° 4.023, Farol.

Com informações RENCTAS