Canudos, um lugar...

24/04/2012 07:42 - Ensaio Geral
Por Redação
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Goretti Brandão

Saindo de Paulo Afonso e viajando alguns quilômetros em estradas asfaltadas, o rumo escolhido a seguir, subordina quem quer conhecer Canudos, no sertão baiano a outro tanto de viagem, agora, por estradas de barro e pedregulhos. A paisagem aprofunda o viajor por exóticas gargantas de paredes rochosas, com pouco mais de metro e meio de altura. Inevitável, a sua vista vai-se acomodando aos poucos, a registrar bancos de areia, terra vermelha, árvores desfolhadas ou com folhas secas. Jumentos andam juntos pelas margens dos caminhos. Também as cabras saltitantes, atravessam a estrada. Há certos momentos em que se tem a impressão de se vivenciar um déjà vu: Homens montados em cavalos magros, em marcha lenta sob o sol escaldante, à cabeça, seus chapéus de couro e uma mesma fisionomia empoeirada, que se opõe à alegria com a qual cumprimentam os estranhos, são imagens que se repetem, constantes, no decorrer do percurso.

Canudos, a atual, não é mais a mesma cidade, embora tenha trazido o mesmo nome para três localidades através do tempo. O lugar onde Antônio Conselheiro (Guerra de Canudos) chegou e se fixou no século XVIII, fica a 12 km dali, às margens do rio Vaza-Barris. Tratava-se de uma pequena aldeia no entorno da Fazenda Canudos.

Em 1893, Conselheiro e seus seguidores rebatizaram o lugar, como Belo Monte. A segunda Canudos surgiu em 1910, sobre suas ruínas e desapareceu embaixo das águas do açude Cocorobó em 1969. Antes, em 1950 a construção de uma barragem determinou a sua inundação. Cocorobó era o nome do vilarejo que em 1985 foi elevado a município, sendo rebatizada também como Canudos.

Mas, como tudo no sertão nordestino, por trás dos caminhos desolados, belezas exuberantes se escondem. Em Canudos, o visitante é surpreendido por grandes vales que, só para sirvam aos interessados como referência, têm paisagens que lembram o Monument Valley, nos Estados Unidos, um local bem visitado, onde fica situada a reserva dos índios Navajos. Além do que, ali se encontra ninhos das Ararinhas Azuis, um pássaro tipicamente brasileiro.

Espécie ameaçada de extinção, a ave é considerada como uma das mais belas do mundo. A Arara Azul chega a ter até um metro de comprimento. Apreciá-las exige que se acorde antes mesmo do dia amanhecer. A marcha até o local desafia os que se atrevem, mas é um deleite para os olhos e um refrigério para a alma. A Natureza a postos, diligente, vai se revelando aos poucos, descoberta pelas primeiras luzes da manhã.

Memorial, Parque, Instituto, são locais em Canudos, que preservam a História do lugar. As paisagens, por sua vez, revestem lugares imateriais, nossos, mais sutis. Elas constelam sentimentos inertes, os adocicam e nos convidam às proezas de conhecer seus viventes, de confiar neles para nos guiar pelos desafios de andar sobre pedregulhos, encostas íngremes, vegetação áspera, terra fofa entrando nos calçados, atoleiros e travessias de riachos.

Em meio a toda jornada, o contato humano com os outros, até então desconhecidos, é o que alinhava as emoções e borda na nossa própria história, a narrativa recente, feita com as cores mais bonitas da experiência vivida, costuradas com suas linhas que desenham e unem pontos para referir significados.
 

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