Onde estão os alagoanos superdotados?

22/03/2012 08:50 - Economia de Alagoas
Por Alexandre Manoel

No último domingo, 18/3/2012, uma reportagem contida nas páginas 11 e 12 do jornal Correio Braziliense – “GENIAIS! O BRASIL DESPERDIÇA O TALENTO DE SUPERDOTADOS (...)” - chamou minha atenção. Na leitura dessa reportagem, diz-se que, para cada criança ou adolescente superdotado no Brasil, há outras 140 mentes brilhantes anônimas, ou seja, talentos não identificados como superdotados. Assim, o número de talentos desperdiçados no Brasil chega a 1,2 milhão de meninos e meninas – considerando a estimativa mais rigorosa da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 3% de detentores de altas habilidades em qualquer população analisada.


A reportagem desconstrói aquilo que no senso comum entende-se como superdotado, que seria aquele indivíduo gênio em todas as áreas do conhecimento e brilhante em tudo o que diz e faz. Não é isso. O diferencial do superdotado em relação aos demais indivíduos reside na capacidade de criar, gerar produtos ou ideias, e não apenas reproduzir o que já existe. Nesse sentido, a reportagem chama atenção dos casos emblemáticos de Albert Einstein – criador da Teoria da Relatividade, que só falou depois de 3 anos de idade e chegou a ser reprovado em matemática – e de Beethoven – o qual, certa vez, ouviu de um professor que ele, como compositor, era ‘sem esperança’.


Nessa reportagem, diz-se ainda que países que já perceberam que esse capital humano pode ajudá-los a crescer socialmente passaram a investir, alcançando o índice de 15% a 20% de alunos altamente capazes, afirmando que Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, entre outros, têm políticas sérias de identificação de superdotados. A propósito, considerando-se o exposto na reportagem, é possível afirmar que, no Brasil, “basicamente” apenas na classe “A” – alunos que frequentam escola particular – identificam-se os indivíduos superdotados. Não há política educacional séria para as escolas públicas identificar os superdotados. Assim, nas redes pública e privada, nas turmas da creche ao ensino médio, incluindo as séries para jovens e adultos, só existem 9.208 alunos identificados como superdotados, segundo o Ministério da Educação.


Na Tabela abaixo, ainda de acordo com a reportagem, evidenciam-se as três Unidades da Federação (UF) – Distrito Federal (DF), Espírito Santo (ES) e Amapá (AP) - que mais identificam superdotados (proporcionalmente) em suas populações, e as três que menos identificam proporcionalmente superdotados em suas respectivas populações – Maranhão (MA), Alagoas (AL) e Santa Catarina (SC).

Identificação de Superdotados em Alguns Estados

UF Alunos Superdotados Identificados Quanto foi identificado em relação ao total existente
 
DF 999 5,9%
 
ES 690 3%
 
AP 132 2,2%
 
MA 109 0,1%
 
AL 31 0,1%
 
SC 104 0,02%

 Fonte: Correio Braziliense, página 11, 18/3/2012.


Fiquei estarrecido ao ler essa Tabela: quanto capital humano desperdiçado! Isso deveria ser motivo de indignação de todos, mas a repercussão da matéria foi muito pequena. No Brasil, todos são a favor da Educação, todos a consideram um ativo valioso e sabem que ela é fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. No entanto, no momento de efetivamente priorizá-la, cuidamos apenas da educação de nossos filhos – isso considerando que a maioria realmente devota tempo para fazer dever de casa com seus filhos, ler com seus filhos etc. – e esquecemos que apenas com Educação teremos uma sociedade com mais oportunidades, mais segura e realmente democrática.


Concluindo, digo-lhes que, como para mim não ficou muito claro em relação a qual  total de pessoas o jornal Correio Braziliense calculou a proporção de superdotados identificados, para fins de estimação dos superdotados alagoanos, considerei a população em Alagoas de acordo com o Censo demográfico de 2010, em que há aproximadamente 1,7 milhão de pessoas, na faixa escolar entre 6 e 18 anos. Assim, visto que em Alagoas identificam-se somente 0,1% de superdotados (em relação ao total existente) e considerando o índice de 3% da OMS – de superdotados contidos em qualquer população -, estimo que se desperdiçam atualmente cerca de 51.000 talentos alagoanos, que deveriam ser identificados e tratados como superdotados. Onde estão eles? Há política pública no Estado e nos Municípios alagoanos para identificá-los?

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..