Vivemos uma transição na moda. Reviver o que foi estilo em décadas passadas e tentar inovar para o futuro é uma encruzilhada e tanto. Enquanto isso, as redes de lojas baratas como H&M, C&A, Zara e outras pelo mundo (no Brasil, Renner, Riachuelo, Leader, Marisa, etc.) fazem um filtro destas indecisões dos lançamentos oficiais e se dão bem.

O caso ficou muito claro hoje. Um designer como Dries van Noten tem muito valor, pelo que já fez desvendando os padrões étnicos, adaptados para uma alfaiataria moderna e tecidos preciosos. Ok, desta vez a inspiração oriental rendeu belas idéias, como os blazers com estampas de porcelana de um lado só, pássaros dourados que atravessam mangas, os casacos-quimonos que ele sempre faz. Bom como ideia, porque como roupa, ali, na hora, ficou pesadão, envelhecedor.

O mesmo acontece com Rochas. A marca fica entre se renovar, como fez a Balmain, e lutar para conquistar gente jovem e roqueira ou manter a faixa de clientes ricas e elegantes. Mas quem quer ser rica, elegante e de casaquinho de avó, de tailleur roxinho, carregando uma bolsinha retangular de alça curta? Isto não é estilo das grandes grifes dos anos 1960, é o que se usava nos anos 1960 - há uma grande diferença. Ok, gostei dos suéteres de gola alta preta ou caramelo com calças pretas ou castanhas com óculos - tenho um fraco por óculos de grau... Rochas está brechó demais.

Então, vejamos um jovem considerado genial, Gareth Pugh. Enquanto recém-formado, deslumbrou pela criatividade, lançou o estilo bicolor que agora todos fazem. O tempo passa e os talentos devem cumprir as promessas. Gareth já assinou até sapatinhos para a Melissa (peeptoe com uma estrela entre listras), mas vai se repetindo a cada estação. Repetiu as tiras de couro dos modelos-gaiolas de outras temporadas e cobriu as modelos de pelos e franjas a um ponto que não se sabia mais o que descrever. Ainda bem que quase no final soltou pelerines/ponchos de visual couro e uma belas vestes ajustadas, com golas drapeadas. Pronto: só estas vestes de couro, coladas nos corpos valeram o desfile na Garage Turenne.

E daí, o que fazem os talentos antigos? Os tais que atualmente servem de inspiração para os novos? A inglesa Zandra Rhodes seguiu o exemplo da Diane von Furstenberg, estilista baseada nos Estados Unidos que começou a ser revivida por nomes como Marc Jacobs e Michael Kors, na moda novaiorquina. Zandra desfilou agora em Paris, mostrou uma retrospectiva incrível, com direito às maquiagens e cabelos da época original, desde 1969!

Quem viu, sacou de onde vieram os looks dos desfiles Dior do tempo do John Galliano, aquelas verdadeiras máscaras e cabelos maravilhosos - dos shows da Zandra, claro. E as estampas? E os bordados? Melhor ainda, que além das peças que atualmente estão em acervos de museus, o desfile de hoje provou que ela não perdeu a mão: os três modelos criados para o inverno 2012/13 têm a mesma energia e graça do que faria um designer recém-saído de uma escola de moda. É roupa de garota, com jeito de mangá, perucas azuis, nada a ver com vovós e décadas passadas.