José Eduardo Belmonte preparou os atores que dirige em "Billi Pig", que estreia nesta sexta-feira (2) em mais de 200 salas de cinemas do país, com pedidos peculiares. De mandar jogar ping-pong a obrigar a comer pimenta antes de entrar em cena, o diretor e roteirista (ao lado de Ronaldo D´Oxum) usou técnicas pouco usuais para compor uma espécie de tributo à chanchada. O resultado foi uma comédia meio nonsense, recheada de improviso de atores consagrados, como Selton Mello e Milton Gonçalves, ou de "debutantes" nas telonas, como Grazi Massafera e Preta Gil (assista ao trailer).

"Trabalhando com o Belmonte consegui entender melhor os outros filmes dele. Ele aprecia muito a improvisação. Chega a assustar um pouco. Eu saía falando, falando e depois pensava: ‘Será que esse filme vai dar liga?’. É um trabalho muito livre”, comentou Selton, na coletiva de imprensa para a divulgação do longa, nesta segunda-feira (27), no Rio de Janeiro.

Preta Gil, intérprete da Generosa, a herdeira de uma funerária sem clientes, lembra que se sentiu excluída dos pedidos "bizarros" do diretor. "Ele dava pimenta para o Milhem (Cortaz) comer e mandava a Raquel (Villar), que é a minha filha no longa, ficar girando por cinco minutos antes de gravar. Ela entrava em cena meio tonta, ele babando. Mas era exatamente o que o Belmonte precisava. Ele sabia o que ele queria. Só não entendi porque ele não quis que eu fizesse nada diferente. Ficava sempre na expectativa de que seria a próxima vítima", brincou.

Para não dizer que "Billi Pig" é a estreia de Grazi nas telonas, a mulher de Cauã Reymond, grávida de sete meses de Sofia, atuou com Renato Aragão em "Didi — O caçador de tesouros", em 2006, pouco depois de ser vice-campeã do Big Brother Brasil 5, e pouco antes de estourar como atriz, no papel da inocente Selminha da novela "Páginas da vida", de Manoel Carlos.

Em seu primeiro papel em um longa não-infantil, e ainda como protagonista, ela dá vida a Marivalda, uma espécie de relflexo caricato da própria Grazi, uma menina do interior que chega à cidade com o sonho de ser atriz. Casada com Wanderley (Selton), um corretor de seguros falido e impotente, começa a dar ouvidos ao porquinho de brinquedo, Billi Pig (dublado por ela), quase um alterego da personagem, que vive a aconselhando a largar o marido fracassado.

"A Grazi está ótima. É muito disponível, sensível, inteligente, pega as coisas rapidamente. Ela e a Preta são as revelações do filme", aprovou José Eduardo Belmonte. Com a experiência de quem começou a carreira no cinema em 1958, em "O grande momento", de Roberto Santos, Milton Gonçalves assinou embaixo: "É uma menina talentosa, realizou tudo aquilo que o diretor pediu. Foi muito bom trabalhar com ela".

Milton vive o padre charlatão Roberval, envolvido em um trambique para tirar dinheiro do chefe do tráfico, vivido por Otávio Muller. Impulsionado pela pressão da mulher para que proporcione todo o glamour com que sonha desde pequena, Wanderley "vende" um milagre do padre ao bandido, desesperado para tirar do coma a filha baleada por traficantes rivais.

A partir daí, a comédia com ares de chanchada vai se desenvolvendo com algumas surpresas no roteiro, como em uma cena típica de musical, em que Marivalda canta e dança em um boteco.

Da maneira que Belmonte aprecia, no improviso, a trama acaba costurada por um tema recorrente entre os personagens. "Fui dissecando o longa e vi que fala sobre vários tipos de fé. O tema é fé", explicou o diretor. "Acabei precisando estudar sobre fé, ler sobre fé. Acabei, de certa forma, redescobrindo a fé", acrescentou.

Filmado em seis semanas no subúrbio do Rio de Janeiro, em Marechal Hermes, o filme custou cerca de R$ 6 milhões, de acordo com a produtora Vânia Catani. A pré-estreia foi nesta segunda-feira à noite, no Odeon, no Centro do Rio.