Eram cerca de 10 pessoas, oito adultos, duas crianças e três cachorros. Todos esparramados na grama próximo a um resort no bairro “nobre” da Jatiúca, em uma manhã do dia estourando calor nas ruas da cidade sorriso.
Eram adultos maltrapilhos e duas crianças, uma quase bebê, desfrutando da cúmplice construção da liberdade nas ruas. Era uma população de dez pessoas movida por uma inquietação humana de ocupar territórios de dignidade.
Os cachorros, os três, famintos e magros rosnavam a cada aproximação de estranhos, mesmo exauridos pelas insuficiências da miséria desaforada, não negavam a proteção aos donos.
Duas mulheres pescavam ao pé da lagoa o alimento da refeição diária. Homens jogavam, entre si, a conversa fora do enredo dos vazios políticos.
A miséria vicejava entre a grama e os personagens da cena ,como lagarta vasculhando a territorialidade da omissão cidadã.
O choro da criança-quase bebê- era como um caldeirão sonoro no ambiente áspero, em que o poder da miséria desperta a agressividade da violência, que em muitos momentos desemboca na criminalidade, na terceira cidade mais violenta do mundo: Maceió.
É uma miséria consentida que imobiliza toda uma população aos estereótipos generalizantes, sob os panos do estado.
Seres imobilizados pela geracional e inumana dominação social, econômica e cultural da elite , na sua grande maioria de homens brancos, que reina nas Alagoas.
No estado mais violento do Brasil, a numerosa, família de pele preta vivendo como vitimas mutiladas da tal cidadania, não era usuária do famigerado crack. Habitam o território da pobreza extrema e pobreza extrema causa violência.
A violência em Alagoas é uma tragédia coletiva, sobretudo para a população jovem, masculina e negra. Esfacela vidas e mais vidas.
Creditar toda violência desse estado ao consumo das drogas é ignorar o arquétipo herdado desde a colônia: do poder que tudo pode parindo o escravismo social.
Alagoas precisa mudar o discurso!

Raízes da África