O menino materializou-se do nada a minha frente em um dos canteiros da Av. Amélia Rosa, no dito bairro nobre da Jatiúca, em Maceió.
Caiam umas gotículas preguiçosas d’água que daqui a pouquinho vestirão a roupagem molhada das primeiras chuvas de janeiro.
Pequeno, frágil os olhos bem abertos com a sapiência das ruas, escondia por baixo da enorme camisa que o abrigava, uma garrafa plástica inchada da droga barata: cola de sapateiro. Com uma das mãos estendeu o pedido: Moça me dá um real?
Olhei-o de relance com a pressa instalada entre a caminhada, as obrigações diárias e a droga que o menino portava. A minha pressa não o incomodou. Ficou pelo entorno, insistindo como a querer o que lhe era de direito: a solidariedade humana.
Como não tive alternativa parei para dar-lhe atenção e ele voltando a carga: Me dá um real. Não tenho- respondo. E ele: então me dá qualquer coisa.
-Mas não tenho qualquer coisa! Ele astuto comerciante das ruas me questiona: E o que é que você tem?
O que é mesmo que eu tinha ou tenho para oferecer àquele menino?
O que é mesmo que temos que oferecer como possibilidades a tant@s e outr@s menin@s que vivem a situação degradante das ruas brasileiras, alimentad@s cotidianamente por nossa flagrante falta de tempo, estereótipos, estigmas e preconceitos?
O quê?