Socializando...

Movimento negro brasileiro não conhece África, diz Bosco 27 Dezembro 2011
O Movimento Negro brasileiro não sabe nada de África. Os africanos não querem saber se o Brasil tem racismo. Não toca a eles isso. Eles querem saber do Brasil como parceiro comercial e tecnológico. Não temos que ir lá reclamar que o Brasil é um país racista. A opinião é de João Bosco Borba (foto), presidente da Associação Nacional de Empreendedores Afro-brasileiros (Anceabra) e membro do Conselho de Desenvolvimento Económico e Social da Presidência da República, o "Conselhão".

Movimento Negro brasileiro não conhece a África.


Borba já esteve em 12 missões em África, seis das quais governamentais. A mais recente aconteceu no final do mês passado, quando integrou a comitiva de 66 empresários de várias áreas que durante 12 dias estiveram em Moçambique, Angola e África do Sul, numa missão comercial dirigida pelo ministro Fernando Pimental, do Desenvolvimento Económico, por determinação da Presidente Dilma Rousseff.

Entre as empresas estavam a Bauducco, a empreiteira OAS e a Camargo Correia, algumas das quais já estão em Angola e Moçambique.

Discurso atrasado

O presidente da Anceabra tem críticas ácidas em relação à postura do movimento negro brasileiro na relação com África. "Nós ainda estamos com um discurso atrasado, fora da órbita. As missões não amarram projectos de longo prazo", afirma.

Ele lembrou que a SEPPIR participou de cerca de 30 missões ao continente Africano desde o primeiro Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e não conseguiu amarrar nenhum projecto. "Que projectos a SEPPIR tem para África? A resposta é: nenhum. Vão prá lá com uma visão imperialista, americana", acrescentou.

Segundo Borba, o maior exemplo dessa visão, que ele considera subordinada ideologicamente à visão do movimento negro norte-americano, foi o Seminário realizado em Setembro, em que a SEPPIR convidou a ex-prefeita de Atlanta Shirley Franklin para falar sobre as oportunidades para jovens negros nos dois grandes eventos que acontecerão no Brasil - a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

"Fizeram um Seminário sobre a Copa do Mundo com a ex-prefeita de Atlanta que aconteceu há 12 anos. O maior exemplo de Copa do Mundo aconteceu há um ano na África do Sul, um exemplo de desenvolvimento para os negros, com foco na questão social, no empreendedorismo. Eles [lideranças do movimento negro brasileiro] continuam como uma visão desfocada, fora da realidade. É a visão imperalista, americana. É uma visão muito ruim. Baixam a cabeça para os Estados Unidos", afirmou.

Oportunidades

O presidente da Anceabra participou da mais recente missão comercial brasileira representando a Policasa, empresa da construção civil de Brasília, e outras nove que tem interesse em fazer investimentos na África.

Entre esses projectos estão a construção de 25 mil casas populares para jovens estudantes em Moçambique, numa parceria com o Governo moçambicano. Há também possibilidades de construção de uma hidroelétrica na Província da Beira.

Ele disse que já há 20 mil brasileiros em Moçambique e 70 mil em Angola. Entre as actividades exploradas por empresas brasileiras - entre as quais a Vale do Rio Doce, a Embrapa, a Odebrecht, Queiroz Galvão e a Petrobrás - estão a construção civil, a exploração de petróleo e gás, e a construção de aeroportos e de obras de infra-estrutura.

"Agora é a hora das pequenas e médias empresas brasileiras na África. É a hora de ficarmos lá. Há toda a infra-estrutura para ser feita, calcetamento, arruamentos etc.", afirmou.

Segundo Borba, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) deverá abrir este ano uma linha de crédito de R$ 25 biliões para empresas interessadas em investir em África e os empresários negros devem aproveitar essa oportunidade, inclusive, quando for o caso, se associando a empresários brancos para garantir o sucesso do investimento.

Países promissores

Entre os países que ele considera mais promissores para investimentos brasileiros estão Angola, África do Sul, Botswana e Ruanda - país devastado em 1.994 pelo genocídio praticado pelos hutus contra os tutsis, os dois grupos étnicos maioritários.

"O maior centro de desenvolvimento tecnológico em África está no Ruanda. A Microsoft está lá. Estão construindo um centro de Desenvolvimento biotecnológico lá. É um país em que, depois do genocídio, a elite foi para a Europa e voltou com outra visão. África é outra hoje", acrescenta.

O presidente da Anceabra garante que a comunidade branca brasileira tem uma visão muito mais próxima de África hoje. "Os negros brasileiros, infelizmente, ainda têm uma visão romântica de África. Vivem ainda no sonho", afirmou.

Sobre se o investimento brasileiro no continente não significaria mais uma etapa colonialista, Borba afirma: "Esse é um problema dos africanos, não é nosso. Os africanos sabem exactamente o que querem. Querem trocar tecnologia, querem desenvolvimento e prosperidade. Nós ainda estamos com um discurso atrasado", concluiu.