O rapaz tem 23 anos e chora. Um choro entrecortado por cheiros e memórias da intolerância familiar. O pai do menino, evangélico, já o condenou ao “fogo do inferno”.
O inferno não é aqui?
O rapaz de 23 anos chora feito criança de colo, as lágrimas descem rosto abaixo atingindo em cheio a alma de mulheres que o ouve e se fazem mães.
O rapaz fala de uma solidão do tamanho do mundo, invadindo seu amanhã de incertezas. O rapaz não faz planos de futuro. Queria no presente ter o pai de volta.
Um pai que não o colocasse abaixo da religião que professa. Um pai militar que não fizesse de sua vida um código de regras a serem cumpridas.
O pai tem nojo e vergonha do rapaz. E ele chora.
Chora em ombros alheios, das mulheres que se vestem de mães conselheiras para ouvi-lo. É um rapaz de 23 anos, mas o espírito envolvido pela dor, põe a infância em sua voz entrecortada de solidão profunda.
O rapaz de 23 anos que chora, um choro de criança, afirma que nunca foi amado, desde que aos nove anos, confessou ao pai que gostava de ‘meninos”.
O pai falou de influências negativas, culpou a mãe pela “criação errada do menino” e o deportou para as terras frias e distantes da indiferença.
Nas noites reclusas da igreja, o pai professa o amor como porta aberta para salvação da humanidade, mas, em casa, nega a esse filho que chora, o amor divino.
Segundo o libanês, poeta e filosofo Khalil Gibran: “Nossos filhos vêm através de nós, mas não são nossos. E embora vivam conosco, não nos pertencem.
Podemos dar-lhes nosso amor, mas não nossos pensamentos, porque eles têm seus próprios pensamentos, seus corpos e suas almas individualizadas “(...)
A intolerância é o maior oponente ao amor
O que é mesmo amor? Pergunta o rapaz que chora.
Raízes da África