Socializo texto extremamente coerente do Marcos Romão, brasileiro que mora lá para as bandas da Alemanha, para reflexão.


O Brasil, Dilma e Cabral precisam de bombeiros.

Marcos Romão


A presidente Dilma ainda em campanha em Hamburgo 2009.
Conversei em Hamburgo semana passada, com um amigo ativista como eu, do movimento negro há mais de 40 anos. Sua filha de 23 anos, mãe de uma criança de 5 anos, foi executada com um tiro na cabeça em Salvador.
Aconteceu em plena luz do dia, 11 horas da manhã, 3 homens foram buscá-la em casa. Saíram sorridentes, disse uma testemunha.
O carro féretro percorreu 300 metros e parou em um terreno baldio, disse uma segunda testemunha, que reparou apenas que conversavam amigavelmente e seguiu adiante. Minutos depois viu o carro passar com apenas três ocupantes. Desconfiado foi até o terreno e encontrou a menina já morta com uma bala na cabeça.
As informações é de que ela andava com más companhias, traficantes talvez. Assunto encerrado para as autoridades.
Seu pai estivera um mês antes no Brasil, comprara um passagem para que ela viesse para a Europa. Pressentia o pior para sua filha.
Andou em más companhias, fez isto, fez aquilo é o que cada pai e cada mãe, de cada um dos 50 mil adolescentes e quase adultos mortos violentamente no Brasil, ouvem das autoridades.
O que era o chicote corretivo antes do Brasil correto é hoje bala de super trezoitão no Brasil democrático. O tratamento social de nossos jovens mudou de ruim para pior. Para todos os problemas a resposta é bala. O Estado só conhece uma lei: "Para cada ação uma reação e grito de passarinho se cala com tiro de canhão".
O pai da menina ainda não chorou. Ouvi pessoalmente relatos de vítimas do holocausto, que o absurdo da situação de extermínio era tão grande, que as lágrimas não estavam preparadas para responder com o choro.
Sei que ele talvez leve muito tempo para reaprender a chorar, para chorar a morte estúpida de sua filha. Eu chorei por ele.
Aprendi a chorar depois de velho, o choro indignado com a ignomínia e injustiça. Que bom poder me sentir vivo e não anestesiado pelo terror das milícias e corrupção generalizada, que nos atinge enquanto brasileiros a 12 mil Km de distância, como se eu estivesse andando em uma rua de Salvador.
Os conselheiros da presidente e dos governadores e autoridades de meu país precisam reaprender a chorar. Chorando talvez aconselhem melhor e parem com as truculências e as balas, e dêem exemplo aos nossos jovens, que é possível comportar-se de outra forma que não seja através da violência.
Em um ato talvez mal aconselhado o governador do Rio de janeiro reprimiu brutalmente os bombeiros de meu estado natal. Infelizmente ele não está sozinho em sua ação. Representou apenas os desmandos coronelistas que persistem e voltam a crescer em nossas cidades e no campo.
Precisamos de bombeiros em todas as instâncias de nosso país. Das escolas a alta magistratura, dos lares aos quartéis. Gente que converse e salve e que não mate.
A filha do meu amigo, meus filhos, os filhos e filhas de cada um vão nos cobrar um dia a nossa ignorância. Vão cobrar a nossa falta de sensibilidade para conversamos e darmos um basta na violação do mais intimo de nossas vidas, que é a nossa dignidade de ser humano. Ainda é tempo. Não é mais momento para trocarmos acusações, é momento para agirmos.
Marcos Romão
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