Desde muito antes das terras de Cabral as relações de poder, desde o domínio do pensamento a esfera política foram inegavelmente construídas com a evidente dominação patriarcal.
A população feminina em território brasileiro soma 51% percentuais. E nesse universo de feminilização as mulheres negras representam mais da metade da população, 30% equivalente a 36 milhões de mulheres negras.
Apesar de sermos maioria, a pluralidade autoritária do sexismo versus racismo ainda governa as escolhas sociais, políticas, sobretudo étnicas, internalizando a face hegemônica como padrão .
“As discriminações raciais somadas às de gênero são eixos estruturantes das desigualdades sociais no país e América Latina”, afirma a gerente de programas da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul, Júnia Puglia.
As desigualdades e discriminações referentes à questão de gênero são recorrentes as amplas minorias minorizadas, especialmente a população de pele preta.
Ainda segundo Júnia Puglia : "As mulheres negras sofrem com a dupla desigualdade. O papel tradicional da mulher na sociedade e a forma como os negros foram inseridos no Brasil colocam barreiras para que as negras aproveitem oportunidades educacionais e no mercado de trabalho"- enfatiza.
Os dados da Relação Anual de Informação Social (Rais), órgão do Ministério do Trabalho, revelam que as mulheres negras recebem menos que a metade do salário dos homens brancos em trabalhos formais.
“Uma das piores formas de inserção é o trabalho doméstico remunerado, por meio do qual as mulheres negras mais participam das atividades econômicas do país. Este tipo de trabalho tem um percentual de formalização muito baixo”, lembra Júnia.
Mesmo sendo um país importador da cultura da democracia racial, o Brasil ainda resiste a presença marcante do sangue negro em seu DNA identitário, investido na desconstrução da sua quota africana.
A estreiteza dos espaços de oportunidades não-igualitários, na República dos Palmares, gera os quilombos do apartheid.
Ó Senhora Liberdade abre as asas sobre nós- diria Zumbi.