O José Abelha , assim como eu, participa da lista <3setor.yahoogrupos.com.br>. E ao me deparar com esse artigo do Abelha achei importante compartilhar e surge a pergunta que não quer calar: afinal, você tem medo de quê??
EU ESTOU COM MEDO!
José Flávio Abelha
Quando tentaram impedir a sua posse, Juscelino foi curto e grosso: Deus me poupou o sentimento do medo!
Sou mineiro mas não sou Juscelino, razão bastante para estar com medo.
Não aquele medo da antiga Namoradinha do Brasil, divulgado à exaustão pela Vênus "foliada" a Platina, expediente bizarro sem qualquer efeito na eleição de Lula, salvo, a saia justa e o ridículo.
Não ha razão para que eu possa ter medo da Presidenta Dilma, aquela mocinha que, segundo seus adversários, bem nascida, foi para o asfalto lutar contra a ditadura então instalada no Brasil, ao contrário de gente fina que preferiu fugir, preferiu o exílio tranqüilo e rendoso.
O meu medo não é da Presidenta Dilma e sim da sua periferia. Dilma não é anciã grega que joga ostra no pote, mas, alguém do seu núcleo duro o faz com mestria, transformando uma das reservas morais do PT, Patrus Ananias, num verdadeiro Péricles, impondo-lhe o ostracismo.
O meu medo é do recente, é do atual. Do contemporâneo!
Fico pensando qual será a reação de um país, outrora o xerife do mundo, quando sentir que não manda em mais nada, que não era amado, odiado sim pelo medo que suas armas impunham, embora nunca tenha, de fato, ganhado uma guerra, saindo derrotado de umas, empatando outras e aliando-se no final aos países combatentes e saindo-se bem nas fotos.
Isso mesmo! Refiro-me aos EUA, com a sua grandiosa esquadra que, agora, ainda tenta policiar os sete mares, uma força aérea impensada por qualquer outra nação, um exército com as armas mais sofisticadas do mundo e que não conseguem dominar os seguidores do senhor Bin Laden, impor "sua" democracia em um Iraque destroçado e, agora, vendo escorrer por entre os dedos os amigos no Oriente médio.
É onde mora o perigo. Somos um pedaço do mundo ligado geograficamente a eles, lá em cima, sem o prestígio adquirido após o entrevero de 39/45 e nós, cá em baixo, lutando para nos firmar como nação próspera, pacífica e independente.
O que farão os EUA , e não demora muito, com as suas armas e suas bombas sem portos amigos para ancorar suas cidades flutuantes que acharam dificuldades quando da visita ao Rio em fundear na Guanabara, e, muito menos, passarem sob a ponte Rio-Niterói?
Vejo com temor as pedras do dominó africano eretas na cabeceira daquele continente, as quais, com os atuais ventos fortes, vão cair umas sobre as outras, ventos que desfraldam bandeiras muçulmanas pedindo a derrubada dos ditadores e a implantação da honestidade e da volta dos costumes que lhes são caros. Seus costumes não são os nossos e eles não aceitam a ocidentalização, como aconteceu com a derrocada do Xá da Pérsia que desejou implantar uma democracia ocidental no Irã e se deu muito mal, ao ponto de, literalmente, não ter onde cair morto.
Considerando que petróleo é combustível violento, não posso imaginar a reação dos EUA e seus aliados que andam pedindo ajuda para a sustentação da ditadura egípcia. Deve o mundo esclarecido, democrático,progressista, estar de barbas de molho, quando vêm países que ajudaram a derrubar a ditadura de Sadan, pedindo sustentação para o ditador egípcio, uma caricatura de Ramsés 2º.
Receio pela sorte dos nossos conterrâneos que estão no Haiti fazendo o papel de xerifes da região, principalmente agora que por lá aportou fagueiro, elegante, milionário, ar despreocupado, fornido, aquele que atende pela alcunha de Baby Doc que me venderam como um assassino de seu povo, ladrão dos cofres nacionais, vivendo nababescamente na Europa. Pelo que sinto, a triste figura não é nada disso que os jornais diziam, visto que um país europeu lhe deu asilo sem qualquer protesto de uma nação sequer, sorte que não teve um guerrilheiro italiano, dez anos asilado tranqüilamente na França sem grandes protestos e, agora, hospede da Papuda, em Brasília, por crimes que ninguém prova que cometeu, salvo uma delação premiada do seu próprio líder que, tirando o ron-ron-ron da seringa, apontou o amigo e companheiro como autor de assassinatos, enquanto o bem fornido Baby surge onde governou com mão de ferro, tontons macutes e vudus, e ninguém protesta. Nem protestou antes e nem protesta agora. Afinal, onde fica o Haiti?
Pelo andar da carruagem nossos conterrâneos estão garantindo a ordem em um país cujo maior desordeiro chega de supetão, não diz a que veio e, num piscar, pode transformar-se em candidato a presidente, o pacificador.
Também sinto uma ansiedade fundamentada pela região onde resido, muito machucada pelas chuvas e pelo descaso.
Quem circula pela estrada da Cachoeirinha vê uma obra mas não acredita. Um barranco sendo contido, uma obra para segurar moradias que estão lá em cima e, penso eu, seus moradores se negam a abandonar suas casas.
Uma placa indica o preço de uma obra que deve ser a que se vê: R$31 milhões. Essa quantia daria para custear a aquisição de uns 400 apartamentos, retirando do topo do morro aqueles moradores, dando-lhes uma moradia digna, segura, e na encosta ameaçadora, uma plantação de pés de bambus, erva cidreira e outras árvores que tenham raízes que se alastram, fazendo um tecido seguro. No interior de Minas Gerais, todos sabem que é assim que se evita esses desbarrancamentos, essas tragédias. E é bom lembrar que o antigo DNER ao construir a nova Rio-Bahia nos tempos de Jango, usou deste expediente, com sucesso.
De vários outros medos uma preocupação me domina ao sair de uma agência bancária, quando vejo a calçada desguarnecida de um segurança enquanto no interior da agência guardas armados fazem o seu papel. Tenho medo de perguntar: segurança de quem, se o assalto é na saída, na calçada?
Tenho medo! Medo de dizer a verdade porque a verdade dói, machuca e provoca a inquietação de quem não quer ser incomodado.
*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar .
Agora, agitante do blog JANELA DO MUNDO.