Ricardo tenho sentido a cidade nua das palavras que esvoaçam sonhos em folha de papel.
Os varais ocos das praças, quiosques, bares e avenidas clamam por poesia, Ricardo.
Lá dos céus, a menina e produtora Tayra, com a alma posta nos olhos, fica pelejando para ver novamente, a essência da palavra (que ela tanto amava) herborizando de poemas recém-nascidos os caminhos dos passantes.
Caminhos com cheiro de continuidade...
Volta Ricardo!
É preciso ter motivo para recomeçar. Como bem diz Cecília, a Meireles: “Canto porque o instante existe”.
As poesias que faziam festa no Papel Varal falam em meio a nossa eterna incompletude.
Lembro de um caso que a Tayra contou. Em um dos saraus poéticos um rapaz semi analfabeto ao encantar-se com um poema colhido no Varal pediu-o de presente. E ao ganhá-lo exultou de felicidade.
E a Tayra, a produtora do Papel Varal, contava esse episódio com expressões repletas de significados, como a dizer: o Papel está cumprindo seu propósito de falar à alma do povo.
Eu que emprestei de você a idéia do Papel Varal para montar o Festival das Palavras Pretas, hoje, sinto-me órfã das palavras primeiras.
É preciso retornar a trilha de povoar esperanças em vidas cerzidas pelo amargor de tantas coisas tão ruins...
É preciso retornar a trilha de germinar margaridas-meninas em asfalto quente.
Mesmo que seu coração ainda esteja em silêncio,
As palavras falarão por você.
Volta Ricardo!
Você bem sabe que a poesia precisa de espaços para coabitar com as expressões populares e daí parir novos mundos, expectativas, possibilidades...
É preciso continuar multiplicando o diálogo da poesia com o espírito coletivo da emoção humana.
Tenha certeza que o coração da Tayra continuará batendo no compasso dessas terrenas andanças poéticas.
Há um deserto de sons, batendo toc...toc...toc... buscando os ruídos do poema-magia sendo rascunhado.
Sem o frescor da poesia,Ricardo, a gente morre um pouco a cada dia.
Volta Ricardo!

Raízes da África