Estava tudo certo para Ayrton Senna ser retratado nos cinemas em uma versão hollywoodiana com Antonio Banderas no papel do piloto tricampeão de Fórmula 1. Mas, no final, o que Viviane Senna percebeu é que não havia melhor pessoa para interpretar seu irmão do que ele mesmo.

Durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (4) em São Paulo, a empresária lançou “Senna”, filme documental sobre a história de um dos maiores ídolos do esporte nacional. “O Antonio Banderas me procurou após as filmagens de ‘Evita’ e achei sua ideia muito boa. Ele propôs o projeto de um filme à Warner, assinamos contrato, mas a abordagem seria muito comercial. Falta a cultura da Fórmula 1 aos americanos”, explicou.

Quem levou a disputa, quase uma década mais tarde, foi a produtora britânica Working Title, que após quatro anos de pesquisa optou por contar a trajetória do piloto apenas por meio de seu extenso arquivo de imagens – a maioria inéditas, como cenas de reuniões fechadas de pilotos e de dirigentes momentos antes das corridas, encontros familiares e vários cenas registradas dentro dos cockpits.

“Foram mais de 5 mil horas de filmagem, foi um filme de cinco horas que reduzimos para três e depois para duas. Passaríamos a vida toda assistindo. Usamos filmagens caseiras Super 8 que o Leonardo [Senna] nunca tinha liberado e passamos três semanas mergulhados nos arquivos multicâmeras do Bernie Ecclestone. Ninguém nunca conseguiu esse tipo de autorização. Nosso objetivo era não parecer televisão”, disse o produtor James Gay-Reed.

“Nunca poderia ter o orçamento de um filme desses, que em certos momentos usa 10 tomadas áreas e tem uma multidão gritando. Acho que inventamos um novo modelo de documentário”, complementou o diretor Asif Kapadia, ressaltando que o filme não tem entrevistas, algo comum no gênero.

Segundo Viviane, o longa que estreia em 12 de novembro, em 120 salas nacionais (ele já foi exibido no Japão, país em que Senna se sagrou tricampeão), não foi feito apenas para fãs do esportista, morto em 1994 aos 33 anos, após um acidente automobilístico no circuito de Ímola.

“É um filme de valores, que traz o Ayrton de fora e de dentro das pistas. Ele mostra o lado dark do sistema da Fórmula 1, que era o principal inimigo dele, não o [Alain] Prost. Para vencer esse embate pela maneira certa, sem trapaças, o Ayrton pagou um preço muito alto”, concluiu.