"O racismo percorre tantos itinerários que em muitos momentos torna-se maior que um tumor maligno.
Na verdade o racismo é uma grande metástase que se manifesta e gradativamente vai ocupando terrenos e se impõe como um gigantesco e crescente corpo social.
O racismo como elemento ideológico é determinante para asfixiar e poldar existências que poderiam ser comuns.
O racismo marca a superficialidade da humanidade contemporânea pela seleção natural, o jogo das aparências. É um estado de estagnação que em muitos momentos marca a solidão de ideais. Qual a interpretação que damos ao comportamento deste profissional da medicina que fez o juramento de Hipocrates? De salvar vidas.
O racismo tem , estabelecido, apesar de todas as lutas dos movimentos sociais uma resistente queda de braços. É preciso que nós, do movimento social negro, aprendamos a difundir estratégias de coesão à luta em torno do cotidiano seqüestro social da nossa identidade étnica.
É preciso difundir o respeito a nossa história já nas plataformas dos candidatos/candidatas as próximas eleições.
Somos tant@s e muit@s e nossas memórias pessoais ousam gritar por palavras que emancipam.
Nenhuma abolição será completa se continuarmos a viver a mercê de parâmetros tão devastadores a nossa auto-estima e a nossa história.
É hora de reagirmos. Ainda temos o poder da consciência ! ( Arísia Barros)"
Abaixo a nota de repúdio de Valdisio Fernandes, Instituto Búzios.
No dia 18 de Maio de 2010, a ativista negra e feminista do Instituto Búzios, formada em administração de empresas, Eva Bahia foi vítima de racismo praticado pelo Dr. José Nunes Sarmento, médico da Clínica Delfin de Salvador - Bahia.
Comparecendo a esta Clínica para fazer um Raio-X, posteriormente foi ao médico que assinaria o laudo e este lhe fez de forma sarcástica o seguinte questionamento: “A Senhora veio tirar raio-x do crânio ou das tranças?!”. Atônita, Eva disse que não havia compreendido o questionamento, e sem nenhum acanhamento ele repetiu a mesma pergunta depreciativa e logo em seguida afirmou que não tinha como emitir um laudo das tranças e para finalizar complementou que não poderia emitir o laudo “disso...”. Indignada, Eva dirigiu-se a Drª. Clarissa Sarmento (provavelmente parente do médico) da administração da clínica para prestar queixa, esta disse que levaria o caso à coordenação e emitiu o laudo citando que artefatos (mega-hair) na cabeça prejudicaram a avaliação das estruturas.
A situação revela o comportamento racista a partir da identificação dos traços fisionômicos do povo negro. O tratamento discriminatório, ofensivo e injusto é inquestionável, é contundente, de forma a revelar a tentativa de colocação do negro em situações inferiores, subalternas e não dignificantes. Contando com a orientação jurídica do Aganjú - Escritório de Apoio Jurídico Aos Afrodescendentes, Eva entrou com uma representação no Ministério Público contra o ato racista, conforme o relato do fato.
O Instituto Búzios, dirigentes e militantes do movimento negro emitiram na forma de abaixo-assinado uma Nota de repúdio à prática racista do Dr. José Nunes Sarmento, Médico da Clínica Delfin. Solicitamos a toda a militância negra a subscrição da nota e a ampla divulgação na mídia, sites, blogs e listas de discussão.