Padres: ex-advogado de coroinhas fala da participação de Bispo e de Deputado

23/04/2010 03:28 - Interior
Por Redação
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As investigações feitas pelo Cada Minuto começam a ganhar rumos diferentes: primeiro a pedofilia e, em seguida, fortes indícios de extorsão praticada pelos três ex-coroinhas que se dizem vítimas dos padres em Arapiraca. Entrevistamos João Pereira Júnior, que foi advogado dos jovens, descobrimos por que ele acabou abandonando a causa. No decorrer da entrevista, Pereira também confirma que o bispo sabia dos problemas que envolviam o Monsenhor Luiz.

De acordo com João Pereira, que atua na área civil, os três ex-coroinhas, Anderson Farias, Cícero Flávio e Fabiano Ferreira o procuram há mais ou menos dois anos, em seu escritório, em Maceió, afirmando que foram vítimas dos abusos sexuais praticados pelo monsenhor Luiz Marques e outros padres.

Os jovens disseram que tinham todas as provas necessárias para fundamentar uma ação indenizatória por danos morais contra a Igreja Católica e teriam perguntado se o advogado teria interesse pelo caso.

João Pereira aceitou a causa e explicou ao Cada Minuto que diante de uma cena que demonstra um grande nível de intimidade (ainda que com um maior), aliada as fotos, testemunhos e outros documentos, haveria grande probabilidade de êxito, uma vez que o conjunto probatório não era desprezível.

Assim sendo, começou a trabalhar, inicialmente, no sentido de buscar uma conciliação, haja vista ser a causa indenizatória por danos morais e, nesse sentido, agendou algumas audiências com autoridades eclesiásticas.

“Primeiro procuramos, por telefone, o Tribunal Eclesiástico em Olinda/PE, a fim de colhermos orientações sobre quem poderia participar da negociação, uma vez que os ex-coroinhas me proibiram de procurar o próprio Monsenhor Luiz ou mesmo Dom Valério, sob o argumento de que ambos não estariam dispostos a resolver a questão”, disse.

O advogado recebeu orientação do Tribunal Eclesiástico para procurar o Cônego Everaldo em Maceió (que era o representante dos sacerdotes da região de Arapiraca). Ao ser contactado, o Cônego esclareceu que somente Dom Valério poderia resolver a questão, com quem foi agendada uma audiência.

Durante o encontro, em Penedo, o Bispo revelou que já havia tomado conhecimento do assunto por intermédio de um homem chamado Augusto, que teria tentado trocar o vídeo em que o Monsenhor aparece fazendo sexo com um ex-coroinha, por um determinado valor que o advogado não recorda quanto seria.

João esclareceu ao Bispo que não se preocupasse com aquele tipo de conduta, pois os seus clientes o haviam constituído e, partir daquele momento, qualquer negociação somente poderia ser feita por ele. Durante a audiência, o ex-advogado dos ex-coroinhas deixou claro que tinha uma demanda indenizatória contra a igreja, motivo pelo qual perguntou ao Bispo se havia possibilidade de acordo.

O Bispo, orientado pela assessoria da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entendeu que a causa não envolveria a igreja, mas, sim, o próprio Monsenhor Luiz, que remeteu a questão ao próprio envolvido e agendou uma audiência que contou com a participação do advogado João Pereira, o Monsenhor Luiz e o advogado Daniel Fernandes.

Da audiência, bastante acalorada, não saiu qualquer acordo porque, segundo Pereira, Fernandes foi intransigente em relação a qualquer proposta. Pereira disse, ainda, que o Deputado Dudu Albuquerque, cuja família conhece o Monsenhor, auxiliou na realização da reunião e sempre manteve um tom conciliatório, chegando mesmo a se propor, juntamente com outras pessoas, que ele iria tentar sensibilizar a ajudar o Monsenhor financeiramente, caso houvesse proposta financeira plausível, a fim de evitar a demanda judicial.

João Pereira afirmou que Dudu não participou da negociação, apenas tentou juntar as partes para uma solução amigável, o que acabou não acontecendo. O advogado também nega que viu o deputado oferecendo dinheiro aos ex-coroinhas.

Tempo depois da tentativa frustrada de conciliação, João Pereira deixou a causa. O advogado não quis revelar o motivo da saída dele do caso, apenas afirmou que preservaria o sigilo profissional. “Não seria de bom tom informar por que saí da causa, são questões que defluem da relação advogado-cliente”.

Entretanto, O Cada Minuto apurou que os ex-coroinhas tinham outras pessoas tentando negociar sem o conhecimento do advogado, motivo que o levou a desistir da causa.

Quanto ao acordo que foi feito entre o Monsenhor e os ex-coroinhas, João Pereira informa que meses depois de ter deixado a causa, estando na casa de sua sogra em Arapiraca, recebeu um telefonema de Flávio, que convidou o advogado a ajudá-los num Termo de Acordo com a igreja.

“Sendo para um acordo, não havia problema. Acompanhe-oi numa reunião que foi realizada numa loja de artigos religiosos no Alto do Cruzeiro. A reunião contou com a participação dos monsenhores Luiz Marques, Raimundo Gomes, um senhor chamado Arimatéia, Daniel Fernandes, e os ex-coroinhas”, lembrou.
 

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