Entre o amor e o ódio. Nos últimos tempos, não há criança que seja mais atingida por esses dois sentimentos tão opostos do que Klara Castanho. A atriz de 9 anos se tornou o centro das atenções em ‘Viver a Vida’ ao interpretar a maldosa Rafaela, garotinha chantagista e intrometida.

As maldades da personagem, principalmente relacionadas à mocinha Helena (Taís Araújo), têm feito o público se revirar de raiva no sofá. Mas o talento transbordante desse pingo de gente e a naturalidade que ela consegue transmitir frente às câmeras amolece qualquer marmanjo, até as senhorinhas mais tradicionais se rendem ao seu talento. “Muitas gostam de mim. Apertam minha bochecha. E tem gente que pede para a Rafaela não contar para o Marcos sobre o beijo para a história não perder a graça”, empolga-se Klara.

 Rafaela de ‘Viver a Vida’ faz sucesso nas ruas

Exageros à parte, há até quem tenha apelidado a vilãzinha de Chucky, o boneco assassino, um clássico dos filmes de terror. Mas do alto de sua sabedoria infantil, Klara mostra discernimento ao apontar os defeitos e, por que não, as qualidades da figura que interpreta. “A Rafaela é uma bisbilhoteira, se mete muito na vida dos outros. Mas ela é amorosa com a mãe o o Maradona (Mario José Paz). Acho isso legal. Ela só quer amor e atenção. E voltar para Búzios para ficar ao lado do Garcia”, defende.

Para lidar com inúmeras experiências antagônicas com tão pouca idade, a atriz mirim é acompanhada de perto pela mãe, Karla. “Assisto à novela com ela todos os dias e conversamos sobre as atitudes da Rafaela. É uma menina sem limites. Mas no fundo ela luta por um desejo de suprir a carência de pai, mas nem tem noção disso”, analisa a mãe da atriz.

E está aí o X da questão. Quando uma criança desponta para o sucesso, não demoram a surgir análises que polemizam sobre o quanto esse excesso de exposição pode ser perigoso para ela. E quando a menina pratica tantas maldades, mesmo que de mentirinha? Como lidar com isso?

O psiquiatra Fábio Barbirato, coordenador do ambulatório de psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, dá seu parecer. “Os pais têm que trabalhar muito bem a questão do que é ficção e do que é realidade. Se há adultos com dificuldades de se desvencilhar de seus personagens, imagine uma criança. Porque o ator é idolatrado pelo que está representando. Nesse caso, a criança precisa entender que está fazendo sucesso não pelas maldades que comete, mas sim por ser uma boa atriz. Do contrário, ela pode pensar que, para conseguir a atenção das pessoas ou alcançar o que deseja na vida, vai ter que cometer maldades como faz na novela”, explica.

O especialista relembra casos como o do ator americano Macaulay Culkin, que estourou para o mundo com o filme ‘Esqueceram de Mim’ e ao crescer não teve preparo psicológico para lidar com a fama — ou o ostracismo — como acontece com muitos.

“Crianças que são atores não podem ser vistas como adultos em miniatura. Atuar é uma obrigação para elas, mas que tem que ser encarada como uma grande brincadeira e não como a profissão da vida delas. Se não for assim, podem ser massacrados”, acrescenta o psiquiatra.

Quanto a isso, a mãe da estrelinha do horário nobre se mostra ciente e bastante zelosa. “Klara está na novela das oito por nossa opção. Mas tenho obrigação de preservar a sua essência e sua personalidade. Por isso, sempre explico a ela que existe um começo, meio e fim para tudo. Nós a apoiamos no desenvolvimento do seu talento, mas tentamos evitar ao máximo a exposição desnecessária. Ela só é atriz na Globo. Em casa, com a família, nem lembramos desse detalhe. Minha filha sabe que suas prioridades são outras. Tentamos ensinar princípios maiores do que a fama”, afirma Karla.

Gracinha de criança

Klara trabalha com publicidade desde bebê. Aos 5 anos já chamava a atenção no seriado ‘Mothern’, do GNT. É assediada, tornou-se assunto de revistas e jornais, mas, fora da TV, é uma criança comum. E fofíssima. Define-se como uma garota tímida, mas depois que conhece melhor as pessoas, torna-se amiga em cinco minutos.

“Aí minha mãe me diz: ‘Menos, Klara’”. Adora brincar na piscina e, para inveja de muitos pais com filhos meio preguiçosos, não reclama de ir à escola. “Adoro estudar. Tem várias crianças que não gostam, né?”, diz. Muitos temem cobras e baratas, mas ela tem medo mesmo é de rato. E conta que adora novelas. “Também vejo desenhos. Adoro ‘Hannah Montana’ e ‘As Espiãs são Demais’. Mas ‘Malhação’ é meu programa favorito. Ultimamente tenho visto muito ‘Alma Gêmea’”, conta. Seus atores prediletos são Caio Castro e Giovanna Antonelli, sua mãe na trama.

Como a equipe da TV TDB! adora Klara, não perdeu a oportunidade de procurar sua colega de cena para retribuir o carinho. “A Klara é minha princesinha e minha grande parceira. O nosso entrosamento é uma delícia. Acima de tudo, nos divertimos e nos dedicamos muito aos nossos personagens. Ela foi um presente dos anjos”, derrete-se Giovanna Antonelli.

De quebra, também consultamos um dos responsáveis por esse sucesso: Manoel Carlos, o criador da criatura. “O sucesso da personagem é consequência do talento surpreendente da pequena Klara. Seu desempenho me chama a atenção desde a primeira vez em que a vi trabalhando, no seriado ‘Mothern’, do GNT.

Ela é uma das poucas crianças que se saem bem em cena, sem parecer um pequeno adulto. Além disso, é impressionante a química que tem com Giovanna. Às vezes acreditamos tratar-se mesmo de mãe e filha. Klara faz por merecer todos os elogios que vem recebendo. Palmas para ela”, destaca o autor.