Ao marcar esta entrevista com O DIA, Felipe Camargo disparou, por telefone: ‘Se for para falar do passado, Vera Fischer e drogas, melhor nem fazermos’. Há 14 anos ‘limpo’, como ele mesmo diz, o ator vive outro momento. Agora ele é Portinho, um dos protagonistas da novela das 19h, ‘Tempos Modernos’, e tem contrato privilegiado com a emissora.

O DIA — Mais de 20 anos depois de ter sido galã na minissérie ‘Anos Dourados’, você está de volta à TV e em um papel de destaque. Como se sente prestes a fazer 50 anos?

Felipe Camargo — Não ligo para a idade. Estou feliz em fazer uma novela desde o começo. É difícil pegar o bonde andando. Eu me tornei um ator mais intuitivo. Ao contrário do que muitos pensam, isso foi enriquecedor.

O DIA — Sempre quis ser ator?

Felipe — Não. Eu fazia Economia e trabalhava como auxiliar da folha de pagamento em Furnas. Ia ser executivo. Mas comecei a fazer um curso de teatro lá mesmo . Aí entrei numa fase de autoconhecimento. Em um ano larguei tudo e fui para o Tablado.

O DIA — Está satisfeito em fazer ‘Tempos Modernos’? Como é o clima das gravações?

Felipe — A novela está relax. Eu, quando estou no ‘set’, quero que a cena aconteça. Gosto de brincar, estou sempre aberto a receber instruções. É a primeira vez que contraceno com o (Antonio) Fagundes...

O DIA — E com a Grazi Massafera. Na trama, a personagem dela, Deodora, andou seduzindo o Portinho. Como é contracenar com ela?

Felipe — O Portinho é tão concentrado, romântico, que nem percebe (risos). A Grazi é muito simples, dedicada, divertida. Ela topa fazer qualquer coisa. Mas não veio para brincar, ela estuda e tem talento. Eu tento fazer o melhor possível. Ninguém tem queixas.

O DIA — Mas você já teve problemas com colegas de elenco?

Felipe — Não, eu tive uns atrasos (na época da novela ‘Pátria Minha’, de Gilberto Braga, em 1994, da qual foi afastado). Uma atriz me dedurou. Dedurar é sempre complicado. Até porque já temos uma produção para cuidar disso...

O DIA — Você já disse que nunca ficou desempregado, mas estava faltando credibilidade ao seu trabalho...

Felipe — Trabalhei pra caramba. Mas eu tenho uma vida que vai até ‘Mandala’ (novela em que conheceu Vera Fischer, em 1987) e outra a partir disso. Passei muito tempo ouvindo: “Por que Felipe Camargo?” Até que o Fernando Meirelles (diretor da série ‘Som & Fúria’) pen<CW-7>sou em mim. Perguntei em que cotação eu estava. Ele disse: “No topo”. Isso deu um levante.

O DIA — Em 2000, você ia rodar o filme ‘Bellini e a Esfinge’ com a Malu Mader. Mas o papel ficou com o Fábio Assunção. O que houve?

Felipe — Não sei, eu ia fazer. Mas um dia a produção me ligou e deixou um recado na secretária eletrônica dizendo que eu estava fora. Fiquei chateado.

O DIA — Assim como você, o Fábio Assunção teve problemas com as drogas. Você concorda com a postura que ele teve, de expor para todo o Brasil a questão no ‘Fantástico’?

Felipe — A vida é do Fábio, ele deve saber o que faz. Eu achei bacana. Ele tem um trabalho maravilhoso, é um cara de caráter, um ídolo e, assim como eu, um bom exemplo de recuperação.

O DIA — Antes de fazer ‘Som & Fúria’, você chegou a cogitar sair do País?

Felipe — Sim, eu me programei para sair do Brasil. Estava cansado da falta de reconhecimento. Começou a rolar uma implicância comigo. Ninguém me dava espaço. Pensava: “Vou para os Estados Unidos ganhar em dólar, interpretar chicanos, italianos...” (risos).

O DIA — E agora você tem um contrato longo com a TV Globo. Isso é um alívio ou traz acomodação também?

Felipe — Não tem acomodação. É bom ter um salário fixo todo mês. Quero um espaço, sei do ator que sou. O Manoel Martins ( diretor geral de entretenimento da emissora) foi quem me chamou para conversar. Ele trabalha na casa há anos, me conhece desde ‘Anos Dourados’. Assinei um contrato de quatro anos e farei projetos especiais também.

O DIA — Você teve um longo relacionamento com Vera Fischer e agora está casado com uma fisioterapeuta. É mais tranquilo ficar com uma pessoa anônima?

Felipe — É... Acho que respirar isso (TV) o tempo todo é chato. Gosto de conversar com pessoas normais, que têm outras profissões (risos). Eu e a Malu (Guimarães) estávamos namorando há quatro anos e nos juntamos no fim do ano. Está tudo ótimo.

O DIA — E como é a sua relação com a Vera Fischer hoje? Vocês se encontram, conversam por telefone?

Felipe — Tudo passa com o tempo. Nos falamos pouco. A gente tem uma relação amistosa, cordial.

O DIA — Seu filho, Gabriel, está com quase 18 anos. Ele continua morando com você? Como é a relação?

Felipe — Sim, mas nos fins de semana, ele costuma ficar na casa da Vera. Comecei a cuidar do Gabriel quando ele tinha 4 anos. Filho da gente é sempre o nosso menininho, né? A gente precisa se policiar. Ele mesmo me dá uns toques (risos).