Quando Adriana Birolli chegou ao restaurante Zozô, na Urca, para esta entrevista, um burburinho tomou conta do salão (Assista ao vídeo do ensaio com a atriz). Alvo de todos os olhares, a atriz, de 23 anos, não se intimidou. Escolheu uma das poucas cadeiras vazias e optou por ser maquiada ali mesmo. Mas não deu certo. A toda hora, o trabalho era interrompido por fãs, clientes do restaurante ou pessoas que estavam apenas passando pela porta, pedindo autógrafos, beijos, fotos. A produção acabou tendo que ser transferida para o escritório da gerência. Uma clara demonstração do sucesso que a irritante Isabel de “Viver a vida” — seu primeiro papel na TV, depois de 10 anos de carreira no teatro — vem fazendo com o público (veja mais imagens do ensaio).

— Adriana é uma revelação que já nasceu madura, um caso raro, daqueles que podem ser contados nos dedos de uma só mão — elogia o autor da novela, Manoel Carlos: — É uma combinação de talento, carisma e disciplina. Tudo isso temperado por uma beleza não convencional. Ela não é linda e nem bonitinha. É bela, o que é diferente. É atraente, sedutora, charmosa. E já aconteceu em “Viver a vida”, mas garanto que isso é só o começo. Adriana vai longe.

Melhor maneira de estrear na TV, não poderia haver. Dentre os muitos novos rostos que a novela das oito apresentou ao público, o de Adriana chamou a atenção desde o início. Não só pelos brilhantes olhos azuis, mas pelo talento que ela demonstrou dando voz aos comentários ácidos de Isabel, algumas vezes cheios de maldade e inveja, outras tão honestos a ponto de magoar. Com eles, a personagem consegue irritar todo mundo na trama. Por suas atitudes, já levou surra de Tereza (Lilia Cabral) e se engalfinhou com Paixão (Priscila Sol). Tudo isso acabou alçando-a ao posto de grande vilã de “Viver a vida”.

 

Adriana Birolli, a Isabel de

 

— Eu diria que o ódio está sendo bem-vindo na minha vida — diverte-se Adriana: — Eu amo fazer a vilã, não posso negar. Na vida, a gente trabalha o dia inteiro para ser legal quando te passam a perna, para não xingar quando você tropeça. Agora, estou podendo trabalhar o outro lado, quase 24 horas por dia. Que bênção!

Mas apesar de todas as maldades de Isabel, a atriz defende sua personagem, alegando que muito do que ela faz se deve ao fato de ser uma garota infantil.

— Ela faz para chamar a atenção, para competir com a Luciana (Alinne Moraes). Isso é normal, existem muitas pessoas como a Isabel. Outro dia, num evento, uma menina veio me agradecer, com os olhos marejados. Ela disse que tinha um irmão exatamente como a Isabel e que a família passou a assistir à novela junta, o que vinha funcionando como uma espécie de terapia em grupo — conta Adriana.

A atriz faz questão de dizer que não tem nada a ver com sua personagem: sabe exatamente o que quer da vida e não vive em função dos objetivos dos outros. Mas admite que existe, sim, uma semelhança: assim como Isabel, ela fala o que pensa.

— Sou muito verdadeira, honesta, direta. Já aconteceu de eu falar uma coisa obviamente boa, mas por ter sido num tom direto, a pessoa me interpretar mal — conta Adriana, que leva essa sinceridade também para o campo da conquista: — Se estiver a fim de alguém, não faço joguinho. Chego e falo: “E aí, vai dar ou não vai?”. Não costumo pensar muito. Se não agradar, peço desculpas.

 

Adriana Birolli, a Isabel de

 

O ritmo intenso das gravações de “Viver a vida”, porém, não tem deixado a atriz curitibana colocar em prática tanta objetividade na noite do Rio, cidade que adotou há pouco mais de dois anos.

— Ainda vou descobrir como é essa vida de solteira no Rio de Janeiro, como diz a música. Quem sabe quando acabar a novela? Mas queria ser uma solteira anônima, algo que nunca fui! Namorei seis anos, bastante tempo. Antes disso eu era criança, não conta, né? — brinca ela.

Adriana está solteira há apenas nove meses, desde que terminou o tal relacionamento de seis anos, com um engenheiro de Curitiba — cujo nome ela prefere não revelar. Foi seu primeiro e único namoro, que acabou justamente por conta da mudança para o Rio, atrás de melhores oportunidades na carreira.

— Não dá para namorar à distância mais do que um ano e meio. Foi o máximo que aguentei. Fiel, é importante dizer. Porque tem gente namorando à distância muito facilmente por aí, mas sendo infiel, né? — ressalta ela.

‘Nunca vou deixar de amá-lo’

Quando o ex-namorado sugeriu de vir para o Rio também, a atriz não concordou. E justificou sua posição com aquela honestidade característica, digna de Isabel.

 

Adriana Birolli, a Isabel de

 

— Para fazer o quê? Me esperar em casa para o jantar? Quem aguenta isso? Deve ser o sonho de muita gente, mas não é o meu, nem o dele. Na nossa relação não caberia algo assim. Somos felizes, cada um no seu estado — diz ela, assegurando que esta foi a melhor opção para os dois: — Não brigamos, não teve nada. Nos falamos sempre, continuamos amigos. Nunca vou deixar de amá-lo.

A história dos dois começou ainda na infância. Adriana o conheceu muito antes do início do namoro. Foi aos 7 anos de idade, num clube de escotismo. Isso mesmo! A perversa Isabel, quem diria, na vida real sempre foi escoteira — alguém que, pelas regras do movimento, deve ser um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade e respeito. Nada mais distante de sua personagem.

Foi num acampamento mundial com 40 mil escoteiros, na Inglaterra, em 2007, que a atriz descobriu que havia passado na prova para a Oficina de Atores da Globo e teria que se mudar para o Rio. Ela voltou para o Brasil, passou em Curitiba, fez as malas, despediu-se dos pais, dos dois irmãos mais velhos, e pegou um ônibus com destino à Cidade Maravilhosa — junto com seu amigo, empresário, assessor, sócio numa produtora de teatro e fiel escudeiro, Ruiz Bellenda.

— Quando chegamos, vimos um outdoor com a Alinne Moraes e comentamos: “essa mulher é a rainha do Rio!”. Nunca ia imaginar que em tão pouco tempo elas estariam contracenando — lembra ele.

 

Adriana Birolli, a Isabel de

 

Depois de cursar a Oficina, Adriana fez uma participação em “Beleza pura” (2008). Pouco depois, veio a grande chance, com o teste para “Viver a vida”. No início, lembra a atriz, todas as cenas de Isabel eram difíceis. Mas ela não sabe dizer qual foi a mais complicada:

— É porque vou deletando. Isabel é uma personagem muito cruel, se eu ficar guardando essa crueldade dentro de mim, não vai dar certo. Quando a cena é mais pesada, e eu já fiz algumas, acabo chorando depois, para botar para fora.

Cenas pesadas

Adriana também é muito prática ao falar sobre uma das sequências mais marcantes de sua personagem na novela: aquela em que a vilãzinha tem seu banho interrompido pela mãe, que a tira do box à força para lhe dar uma surra. A atriz conta que deu o maior trabalho, por toda a questão técnica e pela carga dramática, que custaram três horas de ralação. Mas o fato de estar nua, usando apenas um tapa-sexo — algo que ela nunca havia experimentado no trabalho —, não foi um fator determinante.

— Apesar de não querer posar nua, não tenho problema com o nu dentro de um contexto, porque não tenho problemas com o nu na minha vida. Eu ando pelada na minha casa, na casa das amigas. Se estou com calor, tiro a blusa, fico de shortinho. Agora, inclusive, estou com calor e acho que vou tirar minha roupa — brinca Adriana, dando risada.