O Desenvolvimento Social exige a Política da Eqüidade e a Responsabilidade Popular.

22/12/2009 21:26 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Existe uma política social em vigência, aquela que estabelece uma visível e discutível dependência do povo com o poder público como estratégia da sobrevida que assegure o pedaço de pão ao bocado de feijão e arroz, muitas vezes sem a mistura. Dependência tal e tamanha que vem criando um novos paradigma: o da tolerância permissiva aos descalabros do poder.
Barriga vazia, falta de moradia, condições de vida insalubres são ferramentas midiáticas utilizadas pelos diversos poderes políticos para afirmação da autoridade do Pai patrão junto ao povo que se sente contraditoriamente agraciado,culpado e indefeso e com a cumplicidade do toma lá da cá , fragiliza o seu real papel de controle social.
A pobreza segmenta, argumenta com as não-possibilidades, invade as periferias das histórias e torna uma enorme seqüela da população refém da outra parcela que detém o poder de vida e de morte, e novamente em nome da sobrevida cria-se novos códigos de convivência social.
As muitas ações em nome da paz com passeatas, cartas, manifestos, sem a adesão de políticas públicas conclusivas e afirmativas assumem um caráter da passiva neutralidade político-social. Bem típico desse indefinido tempo contemporâneo.
Adolescente do alto dos seus 15 anos, Jorge, jovem negro vaticina: “todo mundo fala em paz, mas ninguém nunca me perguntou o que acho disse. Só quem passa sabe o que é a gente lutar contra a guerra de não saber se haverá futuro. A gente vai pra guerra desarmado, sem escola, saúde e pior descalço e com fome. Um dia fui parado pela polícia como elemento suspeito. Porque sou suspeito?!”
Segundo Mir: Sem implodir a balcanização, refundar o Estado, construir a nação multiétnica e transferir poderes e rendas teremos uma nova farsa com 500 anos de legalidade e guerra civil permanente.
República, palavra derivada do latim "res publicae", quer dizer coisa pública, ou seja: coisa do povo e para o povo, como bem proferiu Cícero.
E essa república que deveria compartilhar poder com o povo inverte os papéis, tornando-o mero coadjuvante na arte da barganha: me dá teu voto que contigo dividirei meu ouro, ou um milheiro de tijolos.
Precisamos quebrar a frágil casca do ovo que vestimos. Não levantamos mais da cadeira, a passividade nos condiciona a ser vítimas e agressores pela omissão passiva “do que não tenho nada a ver com isso”. A nossa indignação virou coisa de novela, é por capítulos e extremamente fracionada. Estamos perdendo nosso caráter da imparcialidade e isso nos torna cúmplices do estado-mercadoria, que impõe a uma considerável parcela da população brasileira, com foco na população negra, condição de vida insalubre,com insuficiência de renda, agregada a má distribuição dos recursos existentes,vazia de oportunidades. Mais de 50% das crianças brasileiras com até dois anos encontram-se na linha da pobreza; negros e pardos representam 63% dos pobres do País.
A pobreza do povo negro é bem mais do que a simples condição econômica é estruturada nos pilares do racismo colônia-nacional que ao segmentar, exclui. Ao excluir estabelece as não-possibilidades de vida digna ou ascensão social e as não possibilidades escasseiam as oportunidades que por sua vez fragiliza a sobrevida da dignidade humana, expulsando-nos mais uma vez para periferia da história.
Quem vai querer ser negro no Brasil?!?
Este país precisa reinventar os políticos oportunistas. Os oportunistas do bem que saibam trilhar com compromisso e sabedoria política os caminhos criados com as ações afirmativas em busca de equidade social.
Nós, descendentes de Áfricas, tivemos e temos um papel fundamental na construção do Brasil, entretanto somos nós, os negros que estamos na dianteira dos que compõem o universo dos miseráveis, aqueles que vivem abaixo da linha de pobreza.Já não é hora de rever essa história?
O desenvolvimento social exige a política da eqüidade e a responsabilidade popular. A releitura das desigualdades às quais o povo negro é submetido é uma delas.

 

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