Na escola não há espaço para anjos negros, nem bailarinas gordas ou princesas que tenham deficiência.

17/11/2009 19:37 - Raízes da África
Por Arísia Barros

A concepção da escola invisibiliza a identidade negra Uma das características básicas do currículo escolar é a flexibilidade, entretanto, quando a temática é a negra o verbo mais conjugado é o resistir. Resistir sistematicamente aos preconceitos adquiridos em um processo de má informação e da má formação sobre a África. Resistir ao processo da construção de espaços intelectuais e de poder para um povo que foi expatriado do seu continente e mantido a força em território brasileiro, como escravizado. O corpo organizacional da escola (gestão, professoras e professores) justifica a resistência com alegações diversas. Desde o receio de não ter informações para aprofundar o assunto, com desculpas pueris como "na escola não há alunos/alunas negras... portanto não tem porque trabalhar isso". Para introduzir o estudo sobre o continente africano é preciso trabalhar na desconstrução e eliminação de alguns elementos básicos das ideologias racistas brasileiras. Quais os padrões usados por nós professoras e professores no quesito beleza? Internalizamos a consciência do homem branco/europeu/cabelos lisos e de preferência loiros. E, quando eu escolho padrões, eu qualifico. Eu seleciono. Eu diferencio. Eu discrimino. Eu excluo. A auto-construção negativa do adulto negro tem seu início na educação infantil. É preciso que façamos da educação um exercício salutar de tratamento das questões humanas fora dos padrões ideológicos. Na escola não há espaço para anjos negros, nem bailarinas gordas ou princesas que tenham deficiência. Na escola não há espaço para herói e heroínas negras. Na escola criança negra não faz parte do mundo do faz-de-conta porque no mundo do faz-de-conta, todas as princesas são brancas: Branca de Neve, Cinderela, etc, etc... A criança negra é cuspida da escola quando coleguinhas a estigmatizam como tiziu, cabelo de bombril, cabelo pixaim, "Zumbi", numa relação clara com sua descendência étnica. Na escola, Zumbi ainda não é rei. É o apartheid estético-social. O mais grave é que o negro, com essa massificação imposta pelos valores eurocêntricos, nega a sua negritude, tem medo da própria imagem e conseqüentemente teme o direito de reivindicar sua própria história. A escola não conta aquele conto que em 1597, o primeiro rei, Ganga Zumba, concebeu em uma serra de muitas palmeiras uma das primeiras sociedades econômica e socialmente viável e auto-sustentável: o Quilombo dos Palmares. O Brasil atravessa a rua quando encontra a África!

 

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