Era esperado para a tarde deste sábado (7),no auditório do Hotel Armação, o maior público da Fliporto 2009, depois da participação do escritor Eduardo Galeano. E a expectativa foi confirmada. O evento registrou o maior número de pessoas até então, arregimentados em grande parte pela presença do compositor, e poeta Arnaldo Antunes.
No debate "Poesia e música: dos trovadores às tribos de MPB", também foram convidados Silvério Pessoa e o jornalista Marcelo Pereira.
A escalação não poderia ser mais acertada, pois o ex-Titã é sem dúvida o mais culto do grupo e sua carreira, parcerias e projetos paralelos (como o recente Pequeno Cidadão, com seu filho Bento e o guitarrista Edgar Scandurra), designa sua propriedade para falar do cruzamento entre mais de um gênero artístico.
Arnaldo falou sobre sua obra, multifacetada, com grande influência da poesia concreta, mistura de música, literatura e arte gráfica.
Ele enxerga na arte não necessariamente erudita, feita por cantadores nordestino e rappers "um domínio do código oral que resulta em poesia sofisticada mesmo sem o costume de se expressar pelo código escrito".
Falando ainda sobre as múltiplas formas de expressão, o músico lembrou que na história da civilização ocidental, houve um processo de seguimentação das habilidades do homem: "Antes, o homem vivia arte, porque produzia coisas para o consumo ou para adoração. Fazia um prato apara comer, um totem para rezar. Era cotidiano. Hoje é preciso quebrar as compartimentações do sentido", opinou.
Ainda sobre as parcerias - ele sempre será perguntado sobre o trio Tribalistas, formado com Marisa Monte e Carlinhos Brown - ele revelou gostar da parceria e de fazer tanto letra quanto melodia na hora, "e numa parceria eu acabo fazendo coisas que não faria, porque o outro acende essa fagulha", acrescentando ainda que nos livros prefere aliar sozinho a poesia com o pensamento gráfico revelado nas ilustrações.
Silvério Pessoa mostrou-se um tanto apagado diante das falas substanciais do colega.
Sobre as referências de poesia concreta e mais precisamente a influência de Décio Pignatari no seu trabalho, ele admitiu que o universo daquela geração contribuiu para sua formação, "assim como o universo do rock n\' roll e da contracultura". Ao mesmo tempo, o músico disse que o aspecto lúdico do que faz é uma busca por subverter a forma tradicional.
"Não acredito muito naquilo que sai como jorro, o que faço é tratar a língua conscientemente", completou. Para os fãs que aplaudiram os poemas "O Corpo", "Pensamento" e " O Mar", ele encerrou recitando a letra de "O Pulso" clássica composição da época do septeto de rock, porém, já um clássico.