Beija-flor, sua escola, sua vida, seu amor. Quando escreveu os versos de “Deusa da Passarela”, em 1980, Neguinho da Beija-Flor não imaginava que sairia da sua escola, Beija-Flor de Nilópolis, a força para seguir sua vida e consagrar seu amor pela mulher Elaine, em plena Marquês de Sapucaí. Foi do samba que ele também tirou forças para comemorar, em julho, seus 60 anos como se fosse o primeiro aniversário, depois de se recuperar de um câncer de intestino e aprender uma nova maneira de viver a vida.

“Eu nasci de novo", diz o cantor, cuja história de superação é semelhante às apresentadas na novela das 8 de Manoel Carlos e abre a série do G1 que abordará casos reais e trará dicas sobre como viver melhor.

 

"Você imagina que aconteça com todos, menos com você. Quando você se depara com um câncer, ainda mais no meu caso, em que todos os amigos que tiveram esse tipo de problema faleceram... Ajudou bastante a minha determinação de tornar isso público. As pessoas pararam para orar e pedir, foi uma corrente positiva determinante”, conta Neguinho, que segue com o cateter, fazendo a manutenção para a doença não voltar.

Neguinho pai e avô

Avô de quatro netos e pai pela quarta vez, de Luiza Flor Morena, de 1 ano, ele brinca que tem a mesma idade da caçula. “Eu hoje já não perco noite de sono sem necessidade e tenho mais cuidado com a alimentação. Valorizo mais a vida”, resume o intérprete, que coleciona em seu escritório, em Copacabana, fotos com o presidente Lula, o rei Roberto Carlos, Jamelão e outros bambas.

 

Lá e no apartamento onde mora, com vista para o mar, o pássaro que dá nome à escola do coração está em tudo: estampado na parede, na bandeira da Beija-Flor, em miniaturas e até em pingentes de ouro. Mas, não é isso o que mais importa. “Só de a gente ter direito à vida é o suficiente pra viver sorrindo. Por isso, meu sorriso é constante”, diz, sorrindo, Neguinho.

Neguinho militar

Há 35 anos, o menino nascido num bairro pobre de Nova Iguaçu, estava desiludido depois de dar baixa no serviço militar e era desacreditado pela família e amigos sobre o futuro como músico, até que ganhou o concurso para assinar o samba-enredo da escola.

“Quando eu era criança, a maioria das mães não deixava os filhos brincarem comigo porque achavam que eu não tinha futuro, ia ser um marginal. Quando eu estava começando a cantar e dizia que ia ser famoso, falavam: ‘Vai ser famoso? Só se for bandido famoso. Um crioulo feio que nem você?’ Passei a acreditar quando fui vencedor do samba-enredo e cinco meses depois a escola ganhou o carnaval comigo na Avenida. Ali, pensei: ’agora não paro mais’.”

Neguinho x Chico Buarque

Vivendo sem ter vergonha de ser feliz, ele se diverte com os versos e o sucesso de sua nova música “Mulher, Mulher, Mulher (Ideia fixa)”. Escrita quando ele tinha 37 anos, com o amigo e engenheiro Murilo Rayol, a letra, que brinca repetindo com interpretações diferentes a palavra mulher, voltou à tona, graças à sua atual mulher, Elaine.

 

Assista ao clipe da música 'Mulher, Mulher'

“Está estourando e vai ser a música do verão. Vinicius de Moraes, se estivesse vivo, e Chico Buarque vão ficar furiosos porque não vão conseguir fazer poesia melhor do que essa. Não vão conseguir nunca, primeiro porque é ruim demais. Mas tá aí na boca do povo. O difícil é fazer o fácil”, brinca.