Casos de assassinatos de crianças em supostos rituais de Magia negra ou goécia dividem opiniões de representantes de diversas religiões em todo Brasil, devido o fato dos praticantes afirmarem se basear em pactos com demônios ou espíritos. Alguns dizem até ter “vendido” a alma em troca de sucesso, poder e satisfação pessoal.

O assassinato de duas crianças pela mãe, Arlene Régis dos Santos, em Maceió na madrugada de ontem, 29, em um suposto ritual de magia negra não é o primeiro caso em Alagoas. A morte de José Vitor Fernandes da Silva, 6, em abril deste ano, no Conjunto Gama Lins estaria ligada a um ritual, devido ás nove perfurações de faca no corpo da criança e ainda, a pouca quantidade de sangue no local, hipótese levantada por parentes da vítima.

Arlene disse ter utilizado o livro de magias do feiticeiro Cipriano - Celebrado no dia 2 de outubro, ele foi um homem que se dedicou ao estudo das ciências ocultas e que após se deparar com a jovem (Santa) Justina se converteu ao cristianismo.

A história do feiticeiro representa o elo entre Deus e o Diabo e seu livro é utilizado no Brasil pelas religiões afro-brasileiras. Mas, ao contrário do que afirmam, esses rituais nada teriam a ver com religiões de matriz africana – umbanda e candomblé.

Segundo o Babalorixá Célio Silva, a magia negra não está relacionada com a religião, já que esta busca o equilíbrio e cultua a natureza e a paz de espírito. “A vida das pessoas faz parte dessa natureza e não há porque realizar esses sacrifícios. As quatro federações alagoanas dos cultos afro vão realizar uma reunião para esclarecer informações sobre esse caso, porque estamos nos sentindo perseguidos e acuados”, explicou.

“Essa mulher premeditou tudo e para escapar da culpa e chamar atenção inventou essa história. Não é pelo fato de acender vela que ela fez pactos ou participa de religiões de matriz africana, porque em outras religiões isso também é feito. O nome magia negra vem de bruxas e ninfas e essas são coisas que surgiram na Europa e não na África”, afirmou o Babalorixá.

Ele disse ainda, que as pessoas atribuem ás religiões afro, rituais que não acontecem, demonstrando racismo e discriminação. “Durante a inquisição a igreja Católica queimou pessoas ditas feiticeiras e não do Candomblé e Umbanda. Quem passa pela doutrina e conhece os nossos fundamentos vai ver que isso não existe. Os objetos encontrados no local desse assassinato não são da nossa religião. Algumas pessoas crucificam e denigrem, se dizem pai de santo, mas não conhecem nada sobre nós”, esclareceu.

Casos

Em 2008 na cidade de Itajaú, no Vale do Açu, no Rio Grande do Norte as autoridades policiais prenderam pessoas acusadas de envolvimento em magia negra. Jeovane Santos Soares (pai-de-santo); Jailson Garcia Sabino, "Gato"; Gledson Pereira de Souza, "Nó de Cana" e outro identificado como Vaguinho estariam envolvidos no assassinato de uma criança de nove anos para sacrifício, com objetivo de traze de volta a ex-mulher de um deles e ainda, deixá-los ricos.

O caso mais famoso da região ocorreu há mais de dez anos, no qual Elizete Moura Lemos, de 12 anos, foi raptada no dia 10 de novembro de 1996 e teve o corpo localizado no dia seguinte, boiando nas águas do rio Pataxó, na localidade de Arapuá, onde residia. Ela foi encontrada com a cabeça raspada e a genitália cortada.

Outro caso relacionado com magia negra na região foi o assassinato do estudante Alexsandro Lourenço de Araújo, 9. Ele foi assassinado na noite do dia 21 de março de 2006, com um golpe de faca-peixeira na nuca, sendo violentado sexualmente, espancado e teve ainda os órgãos genitais arrancados.

Em novembro de 2008 uma mulher de 43 anos foi presa em flagrante ao matar, com 15 facadas, o filho de 19 anos, na Zona Oeste de São Paulo. Vizinhos contaram que ela teve uma crise psicótica e que falava sobre demônios e assuntos satânicos. A polícia descobriu que mulher fazia parte de sites religiosos que adotam o sacrifício e mantinha contato com outras pessoas com os mesmos interesses pelo site de relacionamento 'Orkut'.

Já em junho de2009 a menina Dyeniffer Aparecida Costa dos Santos, 12 anos, foi morta, em Uberlândia, no Estado de Minas Gerais em um suposto ritual de magia negra, feito para beneficiar o marido de Efigênia Guimarães Pena Balbinos, vizinha da família e acusada pelo crime.


De acordo com o Ministério Público do Estado, o sogro dela, Luismar Balbino, e a cunhada, Ariana Vera Medeiros Silva, também participaram do crime. Os três foram denunciados por homicídio doloso triplamente qualificado, formação de quadrilha, ocultação de cadáver e sequestro de incapaz, já que um bebê de 6 meses, sobrinho da vítima também foi usado no ritual.

Eles teriam golpeado a criança no pescoço e usado o sangue dela para banhar o bebê. O objetivo, segundo os acusados, era transferir os males do marido de Efigênia, que estava preso, para o bebê. Para finalizar o ritual, os acusados esquartejaram a vítima e abandonaram as partes do corpo em pontos diferentes da cidade. O bebê foi abandonado em outro ponto da cidade, já limpo e com a cabeça completamente raspada.

Em 2008 um ritual de magia negra pode ter sido o motivo que levou Diego de Oliveira Soares, de 19 anos a matar o amigo, Antônio Carlos da Silva Filho, 17. O crime ocorreu em um cemitério de São João Nepomuceno, na Zona da Mata de Minas Gerais.

Ao lado do corpo foram encontradas velas, restos de uma fogueira, uma garrafa de vinho e uma pedra de mármore, provavelmente utilizada para atingir a vítima


Em janeiro deste ano, Ciconed de Lima Bezerra,36, foi morto e teve o corpo retalhado e cozinhado num ritual de magia negra em Caruaru, Agreste de Pernambuco. Os pedaços do corpo foram espalhados em bairros diferentes da cidade.

O pai-de-santo Jandeílson Mendonça de Queiroz, 23, confessou o crime e afirmou à polícia que atendeu a um pedido de uma entidade espiritual. Além de espalhar partes do corpo, o acusado cozinhou num caldeirão a cabeça, as mãos, o pênis e as nádegas.

Já em novembro de 2008 a polícia prendeu em Goiânia um suspeito de envolvimento na morte de Lucas Eduardo Mendes de Oliveira, 7, durante um suposto ritual de magia negra em fevereiro de 2003, na cidade de Paraíso do Tocantins).
Lucas desapareceu de casa no dia 24 de fevereiro de 2003 e foi encontrado mutilado em um córrego da cidade oito dias depois.