No início da tarde desta terça-feira (8), manhã ainda no Brasil, o Festival de Veneza assistiu a mais um daqueles momentos que poderiam ser constrangedores se levados a sério. Mas se supõe que tenha sido apenas uma piada o fato de um jornalista espanhol, profissional de um programa de fofocas, ter tirado a roupa durante a reunião de imprensa do filme The Man Who Stare at Goats, exibido fora da competição. O alvo da singela homenagem foi George Clooney, protagonista da fita. Aos gritos de "eu te amo, George" e "leve-me com você", o rapaz ficou só de cueca. Escolado nesse tipo de bizarrice, Clooney não perdeu a compostura e manteve o bom humor, dizendo que não acreditava no que via. Respondeu que não poderia fazer nada mais por ele, senão ter pena. Já cercado pela segurança, o "stripper" teve seu crachá de credenciado recolhido e voltou ao anonimato.
A essa altura, o astro já havia recebido cantadas explícitas de mulheres presentes e respondido a perguntas sobre sua sexualidade. Tudo para aproveitar um trocadilho em referência a um "parceiro" de Clooney chamado Marx, um porco de estimação, já morto. Mas na maior parte do tempo, a coletiva versou sobre temas ligados ao filme e à carreira do ator. Clooney diz adorar o festival. "Além do espírito de respeito ao cinema aqui, onde mais no mundo você se mete num barco para chegar do hotel ao festival", perguntou.
The Man Who Stare at Goats é uma comédia ambientada no universo de uma guerra, no caso a do Iraque, na linha sarcástica de M.A.S.H., clássico no gênero realizado por Robert Altman em 1970. Mas distancia-se do front, cenário de Altman, para contar uma farsa divertida baseada no livro de Jon Ronson e dirigida por Grant Heslov, roteirista de Boa Noite, Boa Sorte e ator de carreira em sua estreia atrás das câmeras. A referência ao Iraque é lateral à história principal sobre um grupo especial do exército americano que foi treinada nos anos 60 para usar poderes da mente contra o inimigo. O jornalista Bob (McGregor) descobre a estranha função ao entrevistar um dos antigos integrantes da equipe, cujo líder (Jeff Bridges) baseava seus ensinamentos na doutrina hippie do "paz e amor".
Ao decidir partir para o Iraque, depois de um casamento terminado, Bob encontra lá outro membro do tal destacamento, Lyn (Clooney) e fica sabendo que a prática foi reabilitada para a guerra atual. "Nunca tivemos a intenção de fazer um filme sobre a guerra do Iraque; o mote aqui é apontar até onde a imaginação pode chegar para lidar com um tema tão duro como a guerra", justificou o diretor.
A trama é repleta de citações e autorreferências. A mais criativa é de denominar os integrantes do grupo de "guerreiros Jedi", os personagens da série Star Wars, cuja sequência mais recente contou com McGregor vivendo um desses personagens. Em The Man Who Stare at the Goats, seu personagem desconhece a mítica série e ouve sem entender a explicação de Lyn. "Ele, meu personagem, não sabe o que é um jedi, assim como toda uma geração que irá ver o filme também não", brincou o ator na entrevista. Questionado sobre a figura emblemática da série, Clooney também foi bem humorado concordando que com tantas guerras e uma crise financeira como a recente seria necessário ter alguns jedis em ação.
O ator ainda lembrou que sua carreira tem sido preenchida mais recentemente por papéis de tom cômico do que dramático, o que justifica a parceria com Steven Soderbergh (na série Onze Homens e um Segredo) e com os irmãos Coen (Queime Depois de Ler). Perguntado sobre uma possível semelhança de The Man Who Stare at Goats com Três Reis, um filme de guerra de 1999 do qual participou, Clooney considerou que este último não brincava com a idéia de farsa e sim de loucura de guerra. "Já agora me senti mais numa situação divertida de Batman e Robin", brincou, olhando cinicamente par McGregor.