A menos de 5 quilômetros do centro de Macaé, norte fluminense, o bairro de Lagomar é um retrato da migração desordenada para a cidade, pólo da indústria petrolífera no Rio de Janeiro. Atualmente, com mais de 40 mil moradores, o bairro de 323 hectares cresceu sem ordenamento urbano e sofre com falta de infraestrutura.
Residente no local há mais de vinte anos, o baiano Jurandir Brás conta que foi atraído pelas ofertas de emprego quando começou a exploração da Bacia de Campos – responsável por cerca de 80% da produção nacional de petróleo. Assistiu o inchaço de Lagomar, que acolheu outros imigrantes, dos quais boa parte nordestinos, mas que não foi acompanhado de políticas públicas.
“A rede de saneamento básico, em obras, não contempla todo o bairro. Não temos creches, sendo que precisávamos de pelo menos de cinco. Escola só tem de 1º a 4º série e faltam médicos no posto de saúde”, contou Brás. “As crianças ficam pelas ruas. E os jovens, sendo cooptados pelo tráfico e por milícias. Isso já chegou aqui."
Presidente da Sociedade de Amigos de Lagomar, Wagner Cordeiro lamenta que os royalties de Macaé - um dos repasses mais altos no estado - não sejam empregados em maior escala na localidade. Segundo ele, as obras na rede de saneamento e asfalto, embora emergenciais, são malfeitas e insuficientes para melhorar a qualidade de vida.
Cordeiro destaca a situação de vulnerabilidade de boa parte dos moradores, que consomem água de fossa, sem tratamento adequado, moram amontoados em casas simples - muitas com banheiros do lado de fora. Ele se diz preocupado, ainda, com o assoreamento de lagoas do Parque Nacional da Reserva de Jurubatiba, que faz limite com o bairro.
Conforme conta, a associação não consegue impedir a construção de novas casas perto das lagoas porque os moradores não encontram alternativa de habitação. Assim, cobra do governo a fiscalização dos limites do parque, com guardas municipais, programas habitacionais e “moralização na aplicação dos royalties”. Para Cordeiro, sem acompanhamento público e orçamento participativo o dinheiro nunca vai chegar à cidade.
De acordo com a prefeitura de Macaé, foram investidos em Lagomar R$ 29 milhões na rede de esgoto e águas pluviais. O prefeito, Riverton Mussi, avalia que a situação melhorou nos últimos anos, com investimentos também no asfaltamento de ruas, ampliação do Programa Saúde da Família e moradias populares. No entanto, pondera, “os problemas são muito antigos para serem resolvidos em pouco tempo”.
Deixe seu comentário
Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.