Gilberto Gil abre Festival Back2Black com show 'pronto pra preto'

29/08/2009 07:29 - Eventos
Por Redação
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“Preparei algo especial pare esta noite, um repertório pigmentado, melaninado", divertiu-se Gilberto Gil logo nos primeiros instantes do show de abertura do primeiro Festival Back2Black, realizado na noite desta sexta-feira (28), na Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro. Acompanhado dos filhos Bem Gil (guitarra) e José Gil (baixo e percusão), o cantor baiano fez uma apresentação acústica e cheia de referências ao tema do evento, que celebra a África como o "berço da civilização".

 

Vestido com camisa, calça e tênis brancos, o cantor tocou por quase 90 minutos para um público comportado, porém atento ao som desplugado do compositor. "É um show pronto pra preto!", disse o músico, que fez arranjos delicados, privilegiando as harmonias ao violão para alguns de seu clássicos, como "Refavela", "Barracos", "Mão da limpeza" e "Tenho sede".

 

Foi um show mais quieto, com um Gil mais contido, inclusive no discurso. Mesmo assim, não faltaram brincadeiras, como as que fez com o filho Bem, que tocou pandeiro em "Expresso 2222".

 

"Nunca consegui aprender este instrumento. Mas a vida é assim mesmo, os genes da gente vão se aperfeiçoando, as gerações chegam melhores e mais inteligentes. Bem está aí para confirmar isso", concluiu o cantor, que ainda dividiria os vocais com Angelique Kidjo, cantora e compositora da República do Benin, ao fim da apresentação.

'Esqueçam as utopias'

Antes de Gilberto Gil assumir o comando da festa, a conferência “Construindo utopias”, que deu início oficialmente ao festival, teve seu tema logo rechaçado por Bob Geldof. “A utopia de um homem é a distopia do outro. Esqueçam isso. Utopias levam a assassinatos em massa”, afirmou o cantor irlandês e organizador dos megaconcertos "Live Aid" e "Live 8", que, em 1985 e 2005, respectivamente, fizeram com que os olhos do mundo se voltassem para a realidade dura da África.

Apesar do tom sério, o ex-líder da banda Boomtown Rats parecia à vontade diante das cerca de 1.500 pessoas acomodadas em cadeiras de praia coloridas dispostas diante do palco.

 

"É um prazer estar no Brasil pela primeira vez. Desculpem o fato de eu não saber falar português. E, se não se incomodarem, prefiro falar andando, pois assim consigo pensar melhor", explicou.

 

Mediado pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa, o debate também contou com a participação do artista sul-africano Breyten Breytenbach, nome importante na luta contra o "Apartheid" nos anos 60. "É uma ideia fracassada querer transformar o continente africano em um único todo. Esta definição de 'estado-nação' não corresponde às necessidades e expectativas de seus povos", destacou Breytenbach, que foi logo apoiado por Geldof.

 

O irlandês também destacou a contribuição do rock 'n' roll na construção de sua consiência política e social, e afirmou que o gênero músical é a verdadeira "cultura global e língua universal".

 

"Quando eu era garoto, rock e política eram a mesma coisa. John Lennon, Bob Dylan, Pete Townshend, Mick Jagger... Essas pessoas criaram a retórica da mudança para mim", revelou o ativista político, que acabou por fazer uso da música pop em benefício do continente africano.

 

Youssou N'Dour, Marisa Monte e Gilberto Gil encerram a noite com "Blowin' in the wind".

Encerrando o primeiro dia do Back2Black, a apresentação do senegalês Youssou N'Dour colocou o público de pé e deu um fim à atmosfera protocolar que reinava desde o início da noite.

 

A semelhança do repertório de N'Dour com a música brasileira talvez tenham contribuído para que coisa ficasse mais quente na histórica estação de trem carioca, que ganhou uma decoração especial, com fotografias e painéis coloridos presos ao teto, onde se podia ler mensagens reflexivas sobre o continente homenageado, como "Na África, menos de 2% da água usada é tratada".

 

Mesmo pouco conhecido por aqui, a plateia aprovou a mistura de ritmos do senegalês, que ainda contou com a participação de Marisa Monte na canção "Seven seconds", gravada com Neneh Cherry em 1993, e que o tornou um nome conhecido mundialmente. Marisa ainda encaixou alguns versos de "Vapor Barato", de Jards Macalé e Waly Salomão, em uma passagem dub da mesma música, o que sugeriu uma homenagem ao poeta morto em 2003.

 

No fim, Gilberto Gil retornou ao palco com Marisa, que vestia uma camisa preta com a frase "Cadê a ética", para o último número, o hino sessentista de Bob Dylan "Blowin' in the wind", em versão raggae. Foi executada duas vezes a pedido de N'Dour.

 

O festival prossegue neste sábado (29), com a conferência "Cultura e desenvolvimento", que terá a participação do cineasta Gavin Hood, e os shows de MV Bill, Banda Black Rio & Convidados, além do funk do DJ Sany Pitbull.

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