Sobre palavras e ausências

23/08/2009 20:03 - Raízes da África
Por Arísia Barros

A cabeça suspira entre a ânsia do pensamento que vadio voa por entre frestas da porta e a vontade do nada fazer. As idéias estão meio que estressadas. Faço descida forçada, insisto por ação rápida, mas qual o quê elas velejadoras riem um riso escancarado e debocham e se amostram, põem saia indecente e ficam a janela gritando psiu pra transeuntes apressados e não apalavrados.
Olho a cena, sem nem mesmo abalar a retórica, sei que boas filhas, sempre a casa tornam. Vou também à janela e assisto ao espetáculo de camarote. De quando em vez todos os parafusos se soltam e aí não tem jura eterna que obriguem as “meninas-palavras” a formarem fila indiana,marcha soldada da cabeça de papel... Na verdade faço corpo mole e vista grossa e permito que as meninas se prostituam com essa coisa chamada liberdade. Somos prisioneiras: eu delas,elas de mim. Encontramo-nos no entremeio da infância: eu aos nove anos, elas bem mais velhas. Estas senhoras amadurecidas,feito flores temporãs nascidas, quando ninguém mais as esperava- deram um lume de árvore de natal a caminhada da criança-escrevente. Legal tê-las encontrado!
Em muitos momentos caminhante na rua ainda está nua de gente, a poesia me chega por inteira, descendo de pára-quedas.O cérebro entra em ebulição. Insisto por um tempo até encontrar caneta e papel na esquina mais próxima do mundo, para anotação escrita as pressas. O nível de stress do poema nascido é tão acelerado quanto o meu. A demora o faz vomitar palavras,vírgulas,parágrafos numa gestação de expressões novas, outras tão,tão belas que a emoção até desconhece a melequeira que ficou o tapete novo da sala. São refluxos ininterruptos na ânsia voraz de preencher o espaço entre a brancura da folha e o corredor de versos que planejo plantar na entrada da casa.
Ah! essas mulheres andantes compõem canções de vida tão especiais que viram sangria das boas tomada a luz da lua. Percorro a trilha entre a lua e a onda iluminada do olho do furacão. Não dá outra, a palavra em liquidificador vira redemoinho e aí os versos se penduram pelo teto da casa, espalham a cantiga antiga do prazer em olhos assustados da gente que não sabe fazer-se ausente quando a poesia domina.
Fazer-se ausente é viver o momento da escrita, sem nem ao menos saber o alicerce no verso primeiro suporta o peso do libido, pra que não haja o efeito dominó esfacelando escritas arrumadas na cadeia de pensamentos alheios e meio que tontos.
Hoje nada de frases inteiras, pensamentos concretos, verdades absolutas, projetos escrevinhados,nem todo dia é dia de rainha, hoje me ponho súdita e tiro peso das costas. A janela fica no último andar do mundo e quero descer um pouco, olhar a rosa que acabou de brotar em terreno-asfalto-quente-areia-movediça para quem ousa crer no florescimento cotidiano do ser humano.
Aprendi na publicidade que no auge da preguiça mental é hora de exercitar idéias. É isso que faço agora. Devaneio entre o ponto de interrogação e a exclamação do achado.
Eureka!

 

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