Novo advogado do casal Nardoni aposta na liberdade de seus clientes

27/04/2009 06:34 - Brasil/Mundo
Por gilcacinara

Advogado desde 13 de abril do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados da morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, em março de 2008, Roberto Podval resolveu adotar uma nova estratégia na defesa de seus mais recentes clientes: ele insiste na falta de provas e de conclusões para provocar uma reviravolta no caso e libertar o casal, preso em Tremembé, a 147 km de São Paulo.

“Olhando friamente os autos, não se chega à conclusão do que se passou naquela casa. Não estou dizendo: são inocentes. Estou dizendo: não tem prova que eles tenham feito, não tem”, afirma o advogado. “Me perguntam, ‘mas e a pobre garotinha que morreu?’. Mas ninguém está preocupado com os pobres dos garotos que estão vivos. Sem pai, sem mãe, sem família”, diz Podval sobre os outros dois filhos do casal.

Na lista de clientes famosos de Podval está o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel em 2002. O empresário responde ao processo em liberdade. 

 O advogado também defendeu o cirurgião plástico Farah Jorge Farah, condenado a 13 anos de prisão pelo assassinato e esquartejamento de uma ex-paciente. Farah recorre em liberdade. “O dia que eu não defender as causas que eu entenda justas, por receio da opinião pública, eu abandono a advocacia”, diz Podval.


A primeira ação do novo advogado do casal Nardoni foi pedir, no Tribunal de Justiça de São Paulo, a anulação das acusações contra a madrasta de Isabella. Ele alega que os laudos não apresentam nenhum fato concreto que possa relacioná-la com as agressões, inclusive no caso da esganadura e da asfixia.

“Não tem prova de esganadura. A asfixia mecânica deu-se pela queda, e foi por isso que a menina foi asfixiada”, explica Podval. Ele também critica a versão da polícia de que Anna Carolina começou a agredir a enteada no carro da família com um anel ou uma chave. “Essa chave não foi para a perícia. Essa perícia não foi feita. Eu pergunto: Por que?”.

Renata Pontes responde. “A chave me foi entregue pelos próprios advogados dias antes da reconstituição. Não sei se é a mesma chave que eles estavam no dia dos fatos. Eu não sei quantas chaves eles têm. Seria até uma estupidez eu pedir uma perícia que de antemão eu sei que não vai me trazer qualquer tipo de prova para a investigação.” 

Convicção da polícia

Ao Fantástico, a delegada reafirmou sua convicção: a madrasta agrediu e esganou Isabella. “Minha conclusão é baseada em cada afirmação que o legista e o perito fizeram. São provas técnicas”.

O vídeo feito a pedido do Instituto de Criminalística de São Paulo também apresenta o que a polícia concluiu sobre Alexandre Nardoni. A simulação o mostra atirando a filha no chão, com força, e cortando a tela de proteção. Depois, pega a filha no colo, deixa as marcas da sandália que usava na cama e joga Isabella pela janela.

Para Podval,é impossível afirmar que eles mataram a menina. “Os elementos técnicos demonstram o que? Que pingou sangue no chão, que a menina faleceu com a queda. Daí a chegar a como se deram os fatos, é óbvio que não tem como.”

O promotor Francisco Cembranelli contesta. “A ideia que eu tenho é que o advogado não leu o mesmo processo do qual estamos falando”, afirmou. 

Terceira pessoa

A polícia também descartou a tese defendida pelo casal de que uma terceira pessoa entrou no apartamento e cometeu o crime. Segundo a perícia, o suposto invasor teria apenas um minuto e 55 segundos para guardar a faca e a tesoura usadas para cortar a tela, limpar as manchas de sangue, apagar as luzes, trancar a porta e fugir, sem deixar vestígios.

“Eu estou descartando a perícia particular. Estou só trabalhando com a perícia técnica, e com ela eu vou conseguir mostrar e demonstrar que tudo que há ali são só idéias juntas, que chegam a uma conclusão que pode ser equivocada”, diz Podval.

“O conjunto dessa prova aponta categoricamente que o casal estava no apartamento quando da queda da criança, e que esse casal é o autor do homicídio da Isabella”, afirma a delegada Renata. 

Próximos passos

O novo advogado do casal pediu à Justiça paulista a reabertura imediata do caso, para que seja feita uma nova investigação. “A ideia é começar um pouco a coisa do zero. Acredito que muitas provas ainda não foram produzidas e discutidas”, afirmou Podval.

Para a defesa, o objetivo principal agora é tirar o casal da cadeia. Se Alexandre e Anna Carolina forem soltos, o julgamento, que poderia ocorrer ainda no segundo semestre, demoraria mais, talvez muitos anos. Como todos os recursos da defesa foram negados até o momento, a polícia e o Ministério Público não acreditam nessa possibilidade.

Para eles, o pai e a madrasta de Isabella devem ficar presos e pagar logo pelo crime cometido. A pena prevista é de 19 anos de cadeia. “Tenho absoluta certeza de que vai haver uma decisão unânime no sentido de condená-los”, afirmou Cembranelli.

A opinião é a mesma da delegada Renata Pontes. “A única preocupação deles era fugir da responsabilidade do que aconteceu dentro do apartamento. Mentiram sempre, sem dúvida, e continuam mentindo”.

Roberto Podval contesta, e acredita em uma mudança nos rumos. “Um julgamento rápido não é necessariamente um julgamento justo.”

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