A disciplina e a dedicação formam os pilares de uma arte milenar, que atravessou o tempo e encontrou no sargento Henrique Lessa, da Polícia Militar de Alagoas, um instrumento de transformação social. Movido pelo amor ao jiu-jítsu, ele está à frente de um projeto esportivo que promove aulas gratuitas de arte marcial a centenas de jovens de comunidades da parte alta de Maceió. Com seis anos de existência, a iniciativa acontece semanalmente na sede do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv), aproximando a Corporação no fomento ao esporte.
Com 19 anos de serviços à PM-AL, o sargento, faixa preta e professor há pouco mais de dez anos, é o terceiro personagem da série de reportagens “Além da Farda”, que conta a história de policiais dedicados a atividades culturais e hobbies, mostrando um lado pouco conhecido pela sociedade.
De Aluno a Mestre
Conhecido como a “arte suave”, o jiu-jítsu entrou na vida do sargento Lessa aos 17 anos de idade. À época, ele acompanhava a rotina de treinamentos do irmão mais novo e descobriu na prática esportiva uma maneira de superar uma fase mais “rebelde” da sua vida.
“Todo adolescente tem um momento da vida que fica meio 'revoltado' sem motivos. Eu comecei a ver a disciplina levada pelo meu irmão nos treinamentos, despertando em mim um interesse em conhecer aquele esporte. Fui ao primeiro treino lá em 2001 e, desde então, o 'casamento' já dura 24 anos de muitas lições e aprendizados”, lembrou o militar.
De acordo com o sargento Lessa, a escolha pelo jiu-jítsu, dentre tantas artes marciais, se deu pelo fato da prática ter uma configuração diferente, com técnicas de imobilização que utilizam o peso do próprio oponente.
“No jiu-jítsu, não impomos a nossa força em relação ao outro competidor. Ele nos ensina a ter paciência e técnica para dominar o adversário a partir dos movimentos que ele mesmo executa. Então, isso me ajudou a ter mais autocontrole emocional, não só nos tatames, mas também no dia a dia da atividade policial”, destacou o policial.
A partir disso, ele percebeu que a luta de origem japonesa possuía elementos úteis para serem implementados na rotina policial militar. Com isso, em 2019, ele resolveu iniciar uma série de instruções para os próprios companheiros dentro do Batalhão. Em seguida, o projeto foi estendido para os filhos desses policiais, tornando-se um sucesso entre o efetivo da unidade.

“Por ser uma arte marcial onde são trabalhadas técnicas de imobilização e controle, a atividade é fundamental para os policiais que desempenham o serviço de 'rua', pois diariamente enfrentamos situações adversas, onde a utilização correta da força ajuda a diminuir o risco de problemas em uma ocorrência. Com isso, a adesão às aulas foi um sucesso e rapidamente saiu dos muros do BPRv”, salientou o sensei. O sargento, inclusive, já utilizou um desses golpes em serviço ao imobilizar e algemar um cidadão embriagado que agrediu a guarnição, sem causar lesões.

Com o suporte do comando da unidade e demais companheiros, foi construído um centro de treinamento dentro das dependências do Batalhão Rodoviário. No dia da inauguração do espaço, uma surpresa marcou para sempre a vida do sargento. “O fato de termos um espaço para treinamentos já era, por si só, motivo de muito orgulho para mim. Mas, meus amigos foram além e resolveram nomear o espaço de 'Dojô Henrique Lessa'. Ali, eu tive a certeza de que as aulas iam além de uma prática esportiva”, relembrou o militar, que ficou muito emocionado com a homenagem.
Desde então, a iniciativa vem ganhando força no Santos Dumont, onde está localizada a sede do BPRv, e comunidades vizinhas. Os treinos acontecem às segundas, quartas e sextas, entre 7h45 e 9h30. Nas atividades, membros da sociedade civil e militares dividem o mesmo espaço de aprendizado com objetivos diversos. “É satisfatório saber que muitos companheiros de farda abandonaram o sedentarismo em prol de uma rotina saudável, com treinos regulares. Ou até ouvir relatos de como as técnicas desenvolvidas no tatame ajudaram eles a solucionar ocorrências com alto grau de complexidade.”
O sentimento de realização é ainda maior ao ver que os jovens atletas acolhidos pelo projeto esportivo levaram para suas vidas os ensinamentos aplicados no tatame, melhorando o rendimento escolar e a relação com seus familiares. Entre os resultados de destaque da iniciativa, o sargento celebra ter dois alunos que já foram campeões da Liga Alagoana. Para Lessa, o objetivo maior não é formar competidores, mas sim seres humanos capazes de construir uma trajetória vitoriosa em suas escolhas pessoais e profissionais.
“O jiu-jítsu nos apresenta lições que ultrapassam os limites do tatame. O respeito e a resiliência trabalhados aqui são características fundamentais para que essas crianças e adolescentes cresçam com uma mentalidade pautada pelos valores morais”, destacou o sargento.
Propósito e Novos Horizontes
Com 41 anos de idade e 24 anos dedicados à arte marcial, o sargento Lessa encara a faixa preta como um novo ponto de partida. "A faixa preta é um novo começo, na verdade. A gente chega a esse nível e a vontade é de aprender mais, de estudar mais a arte marcial para ser um bom professor", explicou.
Pai de uma criança de quatro anos e à espera do nascimento da próxima filha, o militar pensa em fortalecer o trabalho social desenvolvido no Batalhão com a realização de aulas para grupos vulneráveis, a exemplo de dependentes químicos e crianças órfãs.
O militar, que consegue conciliar o serviço ordinário com o projeto graças ao "amor verdadeiro" pela arte marcial, incentiva outros colegas de farda a seguirem seus talentos: “Eu diria que acredite no seu talento. É fundamental fazer alguma coisa além da farda e da sua rotina, onde voce possa transbordar o bem para a vida de outras pessoas
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