A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apresentou os principais desafios para o próximo ano, no intuito de antecipar as ameaças contra a segurança do Estado e da sociedade. A segurança no processo eleitoral de 2026 e ataques cibernéticos com inteligência artificial (IA) estão entre esses desafios.
A publicação “Desafios de Inteligência Edição 2026” detalha cinco desafios para lidar com riscos diretos e indiretos para a segurança do país:
- Segurança no processo eleitoral;
- Transição para a criptografia pós-quântica;
- Ataques cibernéticos autônomos com agentes de inteligência artificial;
- Reconfiguração das cadeias de suprimento global;
- Dependência tecnológica, atores não estatais e interferência externa.
Com relação ao contexto geopolítico, Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, destacou, na edição 2026, o emprego de instrumentos econômicos como fatores de pressão política; e a escalada de ameaças militares a países latino-americanos – inclusive fronteiriços com o Brasil.
RECONFIGURAÇÃO
Corrêa ressaltou também a competição acirrada pela dianteira no desenvolvimento e uso da IA. De acordo com a Abin, o cenário atual é de multipolaridade desequilibrada e desinstitucionalizada, tendo como fator central a competição estratégica entre EUA e China.
A agência acrescenta que a situação mundial atravessa um “período de profunda reconfiguração”, impulsionado por confluências entre clima, demografia e tecnologia, em um cenário de “desestruturação da ordem internacional”.
ERA DIGITAL
O documento propõe, sob a ótica da atividade de inteligência, que o Estado fique atento também às transições nos domínios do clima, da demografia e da tecnologia, em um contexto marcado pela alta densidade das interações e das interdependências – em especial da energia, da informação e dos transportes.
Sugere, ainda, foco nos “impactos sem precedentes” da Era Digital. Com relação às questões tecnológicas, o relatório aponta como “desafio nevrálgico” do país a garantia de uma soberania digital.
Entre as dificuldades previstas para se atingir esse objetivo, ela destaca a dependência estrutural de hardwares estrangeiros e a concentração de poder em big techs.
A agência, no entanto, destaca os avanços do Brasil na área de cibersegurança. O país, segundo ela, vem desenvolvendo tecnologias de ponta, como a do aplicativo de mensagens governamentais, que faz uso de criptografia pós-quântica.
A rápida evolução da IA pode fazer desta ferramenta um “agente ofensivo autônomo, capaz de planejar, executar e adaptar ataques”. Isso pode, em algum momento, elevar o risco de alguma escalada, fazendo com que incidentes cibernéticos possam resultar em conflitos militares, por exemplo.
Diante da evolução tecnológica, a agência antevê riscos que deverão surgir a partir do advento da computação quântica – algo que, no prazo de 5 a 15 anos, tornará obsoleta a atual criptografia de chaves públicas.
DEPENDÊNCIA
Nesse sentido, a Abin considera urgente uma transição para algoritmos pós-quânticos que não dependam de tecnologias estrangeiras. A Abin enxerga no domínio digital a “arena central” da competição geopolítica; e as big techs como “vetores de influência de seus Estados-sede”.
“Nesse contexto, a dependência de provedores externos em infraestruturas críticas (nuvem, dados, identidade digital) é uma vulnerabilidade estratégica severa para o Brasil”, destaca a agência ao afirmar que essa dependência tecnológica pode levar à interferência externa.
Como exemplo, a Abin cita a chamada guerra cognitiva, em geral catalisada por alguma desinformação algorítmica. Cita também o risco de espionagem com o objetivo de acessar dados sensíveis.










